terça-feira, 29 de dezembro de 2009

"Avatar e os anjos meus"

A partir de Janeiro de 2010 estarei com novo blog:
http://jardineiradeletras.blogspot.com/

ou se quiser, escreva-me
te espero lá
1/2 bj






"Avatar e os anjos meus"


Escrevo hoje
para me encontrar num tempo

Um tempo em que está longe
a tesoura de Átropos
que ainda me fia.

Moça bonita,
vês agora
a letra que me ata
preparando as flechas todas
em meio peito lunado?

Ela o anjo de asas Cansadas
Ele o Avatar cavaleiro

Ela halo sutil de nome leve
Ele luzeiro de sombras em 7 velas
7 vidas, 7 trancas sem tramelas

Ela no meio da jornada da vida
Ele lenha queimando em seu lume raro

Ele um facho de luz que espalha os dias
Ela corpo ausente que ele deitava

Era aquele colo todo...
aquele sonho colo,
aquele re-abraço continente
de fazer-te ilha bem contente
um deslubramento das madrugadas
lunosas, beira, barrancas Guaíba,
onde frio fumaça, anda por riba
riba acima, rio abaixo
lua prata, luaalada, luanada...

Inda menino,
de infancia ansiosa
lhe pago hoje
os dizimos devassos
medindo em palmos
num corpo
que ainda não toquei.

Mas sonhei!
Ah! Como sonhei!
e chorei.

Meu coraçãozinho de menino...
pequeno que é
as vezes não cabe,
às vezes não abre,
nem comporta
sabes?

Estufa....
agita....
lancina...
qual fera ferina
ferindo fundo
...
e anela
o que sela
outros nomes
no meu
e nunca o seu
...
tempo, relógio
ponteiros
segundos
calendário
poeira de armário
saudade amarela
sol poente
fim de mundo

E haverá sempre
alguem faltando
nessa prosa
e tantas bocas mastigando
outras fomes
e nunca a minha
tanta lágrima caindo
e sempre a minha

E tantas gargantas
engolindo
outros nomes
e nunca o seu

Ninguem pediu a mim
que feneça
o que ainda estupra!

E no entanto
mea culpa
mea culpa
mea máxima culpa

e sendo assim
toca a viola
toca a vida em frente
mesmo desafinada
que é o jeito
da gente dançar
a vida da gente
desatinada sempre
sempre o nada

e é assim
moça do vazio
que se faz longe
moça do arrepio
que se faz perto
moça da voz de anjo
que o coração tange
moça do donde
o vento varre
do meu peito,
de sem jeito
esta saudade
que no peito dá nó
semeando no ventre
uma semente
que nunca nasce
porque só

e é isso
a natureza é isso
moça Bonita e anja
destas terras gaúchas
dos sem fim
onde olhos brilhantes
em mel coruscantes
faiscam ...

ao pensar
que pensa
em mim...

...
...
1/2 beijo nesta volta pro teu aconchego


Antonio Carlos
2o
o9
---------------------

Quando uma estrela cai,
no escurão da noite,
e um violeiro toca suas mágoas.

Então os "óio" dos bichos,
vão ficando iluminados
Rebrilham neles estrelas
de um sertão enluarado.

Quando o amor termina,
perdido numa esquina,
e um violeiro toca sua sina.
Então os "óio" dos bichos,
vão ficando entristecidos
Rebrilham neles lembranças
dos amores esquecidos.

Quando o amor começa,
nossa alegria chama,
e um violeiro toca em nossa cama.

Então os "óio" dos bichos,
são os olhos de quem ama
Pois a natureza é isso,
sem medo,
nem dó,
nem drama

Tudo é sertão,
tudo é paixão,
se o violeiro toca

A viola, o violeiro
e o amor se tocam...

Um Violeiro Toca -Almir Sater / Renato Teixeira

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Inté...






Minha América!





Minha América!

Minha terra à vista,

Reino de paz,
se um homem só a conquista,
minha mina preciosa,
meu Império!

Feliz de quem penetre
o teu mistério!

Liberto-me
ficando teu escravo;
onde cai minha mão,
meu desejo gravo.

Nudez total!

Todo prazer provém
de um corpo
(como a alma sem corpo)

Sem vestes.

As jóias que a mulher ostenta
são como bolas de ouro de Atlanta:

Os olhos do tolo
que uma gema inflama
ilude-se com ela
e perde a dama.

Como encadernação vistosa,
feita
para iletrados,
a mulher se enfeita;

Mas ela é um livro místico
e somente

A alguns
(a qual tal graça se consente)

É dado lê-la.

Eu sou um que sabe;
Como se diante da parteira,
abre-Te:
Atira, sim,
o linho branco fora,
Nem penitência
nem decência agora.

Para ensinar-te
eu me desnudo antes:

A coberta de um homem
te é bastante



John Donne Tradução de: Augusto Campos


e é isso
moça de luas e estrelas
neste cerrar
de Dezembro
onde a chuva
lava a alma
e as folhas
levam
pedaços de sonhos
de contos de fadas

Mas ainda
é cedo...

2009

antoniOcarlOs

Dalto - Espelhos Dagua

Starry Night





"Antes, eu achava
que o mais terrível
em se relacionar
com outras pessoas
era simplesmente saber
se elas seriam malvadas
ou boazinhas

- a dúvida!

ter de interpretar
todos os sinais!


- mas, agora,
sei que tudo que importa
é se a pessoa
é vazia ou não.

Cedo ou tarde,
todos te fazem sofrer,
nem que seja
um pouquinho
e agradavelmente
por, digamos,
a demora em trazer
bombons de presente,

mas humilhante mesmo
é sofrer por gente vazia."


Nico Hideyo, - Million Dollar Kiss.




e é isso moça do cobertor de estrelas
fica aqui a minha estrelinha
pra vc...
porque vc é minha estrela maior
.

aNTONIocARLos



Don Mclean - Vincent (Starry Starry Night)

Fulminante





FULL...
minante



Eu me planejei não me planejar.

Amor para mim é doideira,
descontrole, soluço de árvore na estrada.

Andar de cadarços desamarrados,
levar os ciscos e as ervas para a casa.

Arrastar as folhas e o solo.

Varrer a rua em direção à casa,
em movimento inverso.

Sujar a casa de mundo, de premência.

Invejo quem programa seu casamento
com antecedência,
com dois ou três anos de noivado.

Nunca fui assim, de fazer maquete,
de brincar de casa de boneca,
de planejar cada passo.

Família não é uma empresa.

Fali na família antes de ganhar alguma coisa.

Invejo quem só casa após segurança financeira.

Amor nunca me concedeu segurança.

Invejo quem condiciona o enlace
a uma lua-de-mel no exterior.

Que seja na saúde e na doença de cara,
na alegria e na tristeza de cara.

Relâmpago não é tão bonito sem chuva.

Relâmpago sem chuva pede esmola.

Quero a chuva junto do clarão,
o marulhar das calhas,
a água nas escadas das telhas.

Sou do amor fulminante,
como um enfarte.

Perder a razão.

Casar na hora, em dias,
esquecer que não era possível,
esquecer as dificuldades,
esquecer os entraves e pormenores.

Não dar tempo para criar problemas.

Não dar tempo para ponderar
com opiniões dos próximos.

Não aceitar conselhos de ressaca,
decidir ébrio e arrepender-se amando.

Ultrapassar-se.

Não sei como montei minha casa.

Amor junta os pertences,
não reclama.

Faz funcionar o que não existe.

Deixo a demora para Deus,
sou mesmo apressado em mim
para ser lento no corpo dela.

Invejo quem faz lista de presentes em lojas
e recebe metade da casa mobiliada
depois da aliança na mão esquerda.

A aliança nem conheceu
minha mão direita.

Mal cumprimentou.

Não recebi nada que está em casa,
não tive poupança, fundos de investimento.

Recebo os amigos.

Sobrevivi, pois precisava.

Não há desculpa para sobreviver.

Invejo quem premedita o casamento,
conhece os pais dela devagarinho,
faz as reivindicações antes do contrato,
briga por teimosia e capricho
pelo tom das paredes e marca dos ladrilhos.

Que escolhe a cor do cachorro
para combinar com o capacho.

Não consigo.

Caso para quebrar as regras,
para me aproximar no ato,
para não deixar o inferno dourar a pele.

Entro no primeiro apartamento e fico.

Os livros já são estantes.

Ponho o colchão no chão
e subo devagarinho com os meses.

Caso rápido
porque nunca fui sozinho dentro de mim,
porque a saliva é água potável,
porque amor é urgência.

Ajeita-se a vida como pode.

Um dia a menos
não será depois
um dia a mais.

Caso em segredo, a dois.

Beijo tem muito despudor
para ter medo.

Não me exibo, caso.

Não faço futuro,
caso logo
para fazer passado.

Fabrício Carpinejar

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

E eles conversaram madrugada adentro
e entre beijos se amaram
nenhum dos dois viu passar o tempo
porque eram tantos os assuntos que falaram
e no final ela o cobriu
com um cobertor de estrelas
seu corpo pura constelação
latejava sobre o dele, em neon
para que na escuridão
ele pudesse vê-la...



e foi isso não foi?

aNTONIocARLos


Musica : Leila Pinheiro - Oceano

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Time after time








Carta Aos Apaixonados

Quando dois corações

pulsam no mesmo ritmo,
todo o Universo a sua volta

harmoniza-se.

Quando duas almas

se encontram
e se reconhecem,
o tempo é mera ilusão

e todo o sofrimento,
pequeno espinho do caminho...

As alegrias simples,

transbordam do cálice do amor
e os pequenos gestos de carinho,
movimentam

turbilhões de sentimentos elevados,
que alcançam as esferas sublimes

emocionando até aos anjos.

Esse encontro pode durar

um segundo, um mês ou mil anos,
mas será eterno o seu encanto.

E o bem que faz aos dois,

multiplica-se para milhões,
pois que funde-se ao amor Divino,

objetivo dos objetivos.

Esse encontro pode se dar

por um olhar,
por carta,

por e-mail,
telefone,
pessoalmente
e até telepaticamente...

O que importa,

é que as ações,
pensamentos e palavras,
ficarão eternizadas

ecoando pelo cosmos,
como ondas de rádio a viajar

pelo espaço infinito,
semeando vida e amor.


E é isso moça instigante

da voz de travesseiro
vem, tire os sapatos,
suba em meus pés
dance comigo...

aNTONIocARLos
2°°9


Hora após hora,
digo a mim mesmo que eu tenho
tanta sorte de amar você

Assim, a sorte de ser
o unico que você corre para ver
à noite, quando o dia está terminando

Eu só sei que eu sei
e o passar dos anos vai mostrar
que você manteve o meu amor tão jovem, tão novo

Hora após hora,
você vai me ouvir dizer que eu tenho
tanta sorte de ser amado por você.


Música: Frank Sinatra -Time after time

Time after time
I tell myself that i’m
So lucky to be loving you

So lucky to be
The one you run to see
In the evening, when the day is through

I only know what I know
The passing years will show
You’ve kept my love so young, so new

And time after time
You’ll hear me say that i’m
So lucky to be loving you



terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Um vulto sombrio





Todos amam precisamente o que lhes falta.

A escolha individual,

que se funda nessas considerações meramente relativas,
é bem mais determinada, mais decidida e mais exclusiva
do que a escolha que se baseie em considerações absolutas;
é desses aspectos relativos que vulgarmente nasce
o amor de paixão, enquanto os amores comuns e passageiros
só são guiados por considerações absolutas.

Nem sempre é a beleza regular e perfeita

que dá origem às grandes paixões.

Para uma inclinação verdadeiramente apaixonada

é necessária uma condição
que só nos é possível descrever
através de uma metáfora tirada à química.

As duas pessoas devem neutralizar-se uma à outra,

tal como um ácido e uma base alcalina num sal neutro.

Metafísica do Amor - Arthur Schopenhauer


________________________________



''O amor,
se existe,
não é uma entidade.

O amor
é um milhão
de pequenas coisas.

Não é possível
ter uma idéia genérica
do que seja o amor
ou dicionarizá-lo.

O amor
é uma flor murcha,
um marcador amarelo de textos,
um disquete de computador,
uma chave de fenda,
um quadro de avisos
onde se espeta
um bilhete,
um peso de papel azul
que reproduz
o globo terrestre,
uma cama desfeita
ao meio-dia
e um copo d'água
pela metade.


Folhas secas
que o vento varreu
para dentro de casa,
um vulto sombrio nos olhos
por causa de uma discussão
com alguém,
a pequena escultura mexicana
de um pássaro,
guardanapos de papel
sobre a mesa-de-cabeceira,
alguém que martela um prego
em outro apartamento,
uma lista telefônica aberta,
mais nada''.


Adriana Lisboa, in Um Beijo de Colombina


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então é isso moça bonita

Tudo é nada, e tudo um sonho finge ser.
Fernando Pessoa

1/2 beijo sabor amor antigo
antoniOcarlos
2009

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~


"Não,
não ofereço
perigo algum:
sou quieta como
folha de outono
esquecida entre as páginas
de um livro,
sou definida e clara
como o jarro
com a bacia de ágata
no canto do quarto
- se tomada com cuidado,
verto água límpida
sobre as mãos
para que se possa
refrescar o rosto
mas, se tocada
por dedos bruscos
num segundo
me estilhaço em cacos,
me esfarelo
em poeira dourada."


Caio Fernando Abreu, in Morangos Mofados


Música : Zélia Duncan & Simone - A Idade Do Céu

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

DENTRO DE MIM




"

(...)
então sim
pedi com os olhos
que voltasse
a me pedir
e então me pediu

e eu queria dizer
sim
minha flor da montanha
e primeiro abracei-o
e o trouxe
para cima de mim
para que pudesse
sentir meus seios
todos os perfumes

sim
e o coração que batia
igual um louco
e sim
eu disse sim
quero.
Sim."


James Joyce

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~


(...)

Dentro de mim
guardo sempre teu rosto
e sei que
por escolha ou fatalidade,
não importa,
estamos tão enredados
que seria impossível recuar
para não ir até o fim

e o fundo disso
que nunca vivi antes
e talvez tenha inventado
apenas para me distrair
nesses dias
onde aparentemente
nada acontece

e tenha inventado
quem sabe em ti
um brinquedo
semelhante ao meu
para que não passem
tão desertas
as manhãs e as tardes
buscando motivos
para os sustos
e as insônias
e as inúteis
esperas ardentes
e loucas
invenções noturnas,

e lentamente falas,
e lentamente calo,
e lentamente aceito,
e lentamente quebro,
e lentamente falho,
e lentamente caio
cada vez mais fundo

e já não consigo
voltar à tona
porque a mão que me estendes
ao invés de me emergir
me afunda mais e mais

enquanto dizes
e contas
e repetes
essas histórias longas,
essas histórias tristes,
essas histórias loucas
como esta que acabaria aqui,

agora,
assim,
se outra vez não viesses
e me cegasses
e me afogasses
nesse mar aberto
que nós sabemos
que não acaba

nem assim
nem agora
nem aqui...


Caio Fernando Abreu

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~


2009


e é assim
10embro
não é?


1/2 beijo sabor Dezembro
que prometia
ser inteiro
em teus braços


ahh!
me desfaço
em estrelas
sou poeira
na tua lembrança
e você

um presente que
perdeu o laço
que hoje não é
nem futuro
nem passado

e qualquer coisa que faço
fica um homem sem esperança
com a vida em compasso


...de espera?
ai quem me dera

uma Fiona
bem verde e amarela
me fazendo ser Sherek
no conto de fadas dela
...
e a coragem dos amantes?
ah! mas isso era antes!

não era?


antoniocarlos

música : Diana Krall - Why Should I Care

domingo, 13 de dezembro de 2009

E então






E então
eles se deixaram levar
e viajaram pela noite adentro
até quase amanhecer o dia
e ela abriu sobre ele
as asas de suas poesias
e ele flutuou na imaginação
de como seria bom
voar ao lado daquela moça alada
por toda a vida
ao som da antiga canção
que não queria dizer nada
mas dizia tudo
quando ele ouviu
e prefiriu ficar mudo
e foi além
mauito além do jardim
se viu envolto pela alma dela
uma alma tão bela
alma querida
nascida de tantos nãos
e enfim renascida
na angústia de um tão esperado sim
e então ele percebeu
que aquela moça já era antiga
velha amiga
de tantas outras passadas vidas
e que hoje vestida de mulher amada
alada continuria a ser
como sempre foi
sua eterna namorada
desde a noite dos tempos


e foi assim
nesta maravilhosa noite
Moça Bonita e querida
de coração doce e suave
como estão sendo
estes minutos de aurora
que se faz
neste outono de minha vida

beijos todos
espalhados por todo teu corpo




Música : Deva Premal - Music for Reiki

sábado, 12 de dezembro de 2009

Particularidades










Particularidades



Na plena solidão

de um amplo
descampado,

penso em ti


e que tu
pensas em mim

suponho;


tenho toda afeição

de um arbusto isolado,

abstrato o olhar,

entregue à delícia

de um sonho.



O Vento, sob o céu

de brumas carregado,

passa,

ora langoroso,

ora forte, medonho!


e tanto penso em ti,

ó meu ausente amado!


que te sinto no Vento

e a ele,

feliz, me exponho.


Com carícias brutais

e com carícias mansas,

cuido que tu me vens,

julgo-me toda nua...


– sou árvore a oscilar,

meus cabelos são franças...


E não podes saber

do meu gozo violento,

quando me fico assim,

neste ermo, toda nua,

completa e exposta

à Volúpia do Vento!

.

.

.

e é isso moça bonita

fera ferida

por fora e por dentro

toda nua

na volúpia do vento

tenha um lindo dia

apesar da chuva

.

.

1/2 beijo sabor alfajor de chocolate branco

aNTONIocARLos



Poesia : Gilka Machado

Música : Fera Ferida

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Apareceu a margarida










Eu sou um livro


Um livro de
preenchimento de cor,
daqueles de criança, por colorir.

Tenho amigos azuis,
um amigo culto,
que é de tinta óleo,
outra amiga que calça 33,
os dois com asas que sangram um sangue
que não descora.


Tenho uma amiga
que é brilho de giz de cera,
e se fosse uma cor
seria muitos tons de vermelho:

Tudo depende da conjuntura
entre os dentes brancos
e os olhos brilhantes/foscos,
tudo uma
questão de humour.

Nesse espectro vem outra amiga,
que é laranja-apaixonada
em lápis de cor:


Leva cada sensação ao máximo
e se estranha ao se encontrar cinza.

Tenho um ou outro amigo
verde-bosteante,
os quais me dão até náuseas
só com a respiração pára a voz,
mas desses eu calo.

E se Deus é brasileiro,
ele é o Franceschi
amigão de 12 anos
dourado, suave e confiável
como um wisky da mesma idade.

Mas colorida mesmo é outra:
A Iara Castellani sempre pinta dentro de mim
todas as cores do mundo:


Ela é um arco-íris:

De muito voar sobre o Amapá

e saber das cores
virou até poeta oculta
depois de tanto professora.

Iluminada, iluminada...

Vez ou outra aparece
e me corrije.

E finalmente tem você Moça Bonita
que mesmo não me entendendo
é um verdadeiro ARCO-ÍRIS
que depois de tanto ameaçar
chegou assim devagarinho
e não tendo onde ficar
acabou por fazer ninho
e se instalar

dentro do meu coração...

Virei uma aquarela...




então é isso

1/2 beijo sabor aquarela

aNTONIocARLos

"Fecho meus olhos e o mundo cai morto; Eu levanto minhas palpebras e tudo nasce novamente; Eu acho que criei você na minha mente."


Pintura: Leonid Afromov
Música : Roupa Nova - Margarida


~~~

Andei,

terras do meu reino em vão
por senhora que perdi
e por quem fui descobrir
não me crer mais ei aqui, me encerrei
sou cantor e cantarei
que em procuras de amor

morri, ai!


Dor que no meu peito dói
que destróis assim de mim
bem sei que eu achei enfim
e que adiantou a dor,
mas me queimou
pois por não saber de amar
ela ainda rainha está


E ela está em seu castelo,

olê, olê, olá

E ela
está em seu castelo,

olê, seus
cavaleiros

ora peçam que
apareça
pois por mais que me eu me ofereça
mais me evita essa senhora


Eu já fui rei, já fui cantor
vou ser guerreiro, um perfeito cavaleiro
armadura, escudo, espada,
pra seguir na escalada


Belo motivo, é por amor
que vou lutando
e pelas pedras do castelo
uma eu já vou retirando


E retirando uma pedra,

olê, olê,olá


Mais uma
pedra não faz falta,


olê, seus
cavaleiros
que ainda correm pelo mundo
ouçam só por um segundo,

que eu acabo de vencer


Retirei pedras de
orgulhos, majestades,
deixei todas de humildades,

de amores sem reinado
ela então se me rendeu

Eu já fui rei, já fui
cantor,
já fui guerreiro
E agora enfim
sou companheiro,
da mulher que apareceu


Apareceu a Margarida,

olê, olê, olá
Apareceu a Margarida,


olê, seus
cavaleiros
Apareceu a Margarida,

olê, olê, olá
Apareceu a Margarida, olê...
Seus cavaleiros!


Margarida -Composição: Gutemberg Guarabyra


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Se tú

.

.

.

.

.




....

.....

......

.Se tú

.


.

...Se tu viesses ver-me
hoje à tardinha,


A essa hora
dos mágicos cansaços,
quando a noite de manso
se avizinha,

e me prendesses toda
nos teus braços...

Quando me lembra:
esse sabor que tinha

A tua boca...
o eco dos teus passos...

O teu riso de fonte...
os teus abraços...

Os teus beijos...
a tua mão na minha...


Se tu viesses quando,
linda e louca,

traça as linhas
dulcíssimas dum beijo


E é de seda vermelha
e canta e ri

E é como um cravo
ao sol a minha boca...

Quando os olhos
se me cerram

de desejo...

E os meus braços
se estendem
para ti...

.





então é isso moça bonita
se tu viesses ver-me hoje a tardinha
quem sabe eu estaria mais feliz
e você menos sozinha?

tenha um lindo dia

aNTONIocARLos



Poesia : Florbela Espanca
Música : Neil Diamond - Play Me

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Você muda o cabelo






Você muda o cabelo,
o comprimento, a cor,
para não deixar pistas de quem mexeu,
de quem ainda mexe nele em segredo
cada vez que respira fundo.


Ele não se despediu verdadeiramente.

Ou será que você não insistiu?

A dúvida não diz sim nem não,
como se não houvesse palavras
para derrubar a vontade da boca.

Ficou assim, o dito pelo não-dito,
o incerto, o indefinido.

Ambos não foram legíveis, foram confusos.

A separação confunde.

Você percebe que o cabelo não é suficiente.

Depois do primeiro dia, ainda depende do seu amor.

Aliás, depende ainda mais forte dele.

Pois agora quer mostrar o cabelo novo.



Você decide baixar o armário,
alterar o corte das roupas

e renovar os acessórios.

Agride os próprios gostos, desfaz o preto,

como se pintasse quadros com as mãos,
sem a mediação dos pincéis.

Seu corpo está diferente, o ajuste, a vibração.

As pernas mais dadas para a rua.

Entra na academia de ginástica.

Treina como uma condenada.

Mas não é suficiente.

Percebe que está mais gostosa do que antes.

Ele poderia enfim se decidir.

Você pinta as unhas, o escândalo do roxo.


Ao tomar café,

recobra que ele escolhia o pingado,
pensa nele antes de seu pedido,
pede pela primeira vez com leite
e o mistura com os dedos,
sem a mediação das colheres.

Isso a excita, recordar dele a excita,
mesmo que tenha se transformado em outra.

A outra deseja conhecer ele,
de tanto que a antiga contou detalhes.

Você apagou o telefone dele do celular.

Apagou o nome dele da caixa de mensagens.

Está se desacostumando a ele,
não recorda precisamente os diálogos.

Vão desvanecendo como papel de fax.

Bate o terror de ser apenas mais um caso.

Não tem como dominar

o jeito que ele a guardará,
a forma como a guardará.

Descobre que seu maior receio
é não ser lembrada.

Como está esquecendo-o,
ele também pode estar a esquecendo.

Liga para ele,
deixa tocar quatro vezes,
ele não atende.

Fica com raiva,
raiva de não ser atendida.

Ou raiva da fraqueza de telefonar?

A dúvida volta.

Nunca se termina aquilo que se deseja.

Corre obcecada para uma loja de móveis.

Revira a decoração da casa,
altera os objetos de lugar, troca o estilo da sala.

Mais despojado, mais rústico.

Rústico era o rosto dele com a barba por fazer.

Ele a arranhava na hora de sussurrar.

Não avisou a pele que vocês estão separados
e ela permanece esperando o encontro.

Crê verdadeiramente que, mudando por fora,
encontrará o atalho para mudar por dentro.

Não a ensinaram a se despedir.


Os homens morreram em sua vida
e não foram enterrados.

Desiste de mudar quando toca seu telefone.

Deixa tocar quatro vezes
e não atende.

Você e ele desaprenderam a falar.



será isso
moça bonita?
o desaprender a falar?
a sorrir?
a permitir?
a sonhar?
a ousar?

fugir do caos criativo?

então?
te espero e quero

neste 10embro

2009

antoniOCarlos





Pintura: Leonid Afromov
Texto : Cabelos - Fabricio Carpinejar
Música : Barbra Streisand- The Way We Were


domingo, 6 de dezembro de 2009

i-MAGINE






i-MAGINE


Imagine um sentimento
água.

Um sentimento
árvore.

Uma agonia
vidro.

Uma emoção
céu.

Uma espera
pedra.

Um amor
manga.

Um colorido vento
sul.

Um jeito casa de
ser.

Uma forma líquida de
pensar.

Uma vida
paredes.

Uma existência
mar.

Uma solidão
cordilheira,

Uma alegria pássaro em

chuva fina.

Uma perda
corpo.

Acho que hoje acordei
semente.

Tenho andado muito
temporal.

Meu coração vive um momento
tudo.

A vida às vezes transborda pelos
poros.

Me atinge um estado
livro.

Aurora em meus
olhos.

Tem pessoas
ponte.

Algumas carregam a gravidade nas
costas.

Já conheci gente

buraco negro.

Eu amo o instante
limo.

Tem um branco em
mim.

A vida me
coça.

Sofro de saudade
anônima.

Palavras me beijam
a boca.

~~~~~~~~~~~~

E então o cafajeste pergunta :
"Foi bom, meu bem?"
A mulher mal-amada (e sacana) responde :
"Foi. Bom, foi. Mas não foi lá essas maravilhas."

É isso?
Haja hipocrisia né?
Mesmo porque eu sou do tempo em que era o homem quem tinha ereção!
rsrs
Toficando velho...

Então, tenha um domingo lindo Moça Bonita, que seja mesmo essa maravilha que vc merece!
1/2 bj sabor Brastemp!





antoniOcarlos



10embro



2°°9



Pintura: Leonid Afromov
Texto : IMAGINE - Viviane Mosé
Música : Meu amigo, meu heroi - Osvaldo Montenegro

Sempre





"Sempre que penso uma cousa,
traio-a.

só tendo-a diante de mim
devo pensar nela,
não pensando,
mas vendo,
não com o pensamento,
mas com os olhos.

uma coisa que é visível
existe para se ver,
e o que existe para os olhos
não tem que existir
para o pensamento;

só existo directamente
para o pensamento
e não para os olhos.

olho,
e as cousas existem.

penso
e existo
só eu."

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~


e é isso Moça Bonita
Penso e existe só você!
No mais, estou indo embora!!


1/2 bj sabor Framboesa!

antoniOcarlos

10embro

2°°9



Pintura: Leonid Afromov
Poesia : Alberto Caeiro
Música : Chão De Giz - Osvaldo Montenegro

sábado, 5 de dezembro de 2009

Tecelã...






Tecelã...



Acordava ainda no escuro,
como se ouvisse o sol chegando
atrás das beiradas da noite.

E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia.

Delicado traço cor da luz,
que ela ia passando
entre os fios estendidos,
enquanto lá fora
a claridade da manhã
desenhava o horizonte.

Depois lãs mais vivas,
quentes lãs iam tecendo
hora a hora, em longo tapete
que nunca acabava.

Se era forte demais o sol,
e no jardim pendiam as pétalas,
a moça colocava na lançadeira
grossos fios cinzentos
do algodão mais felpudo.

Em breve, na penumbra
trazida pelas nuvens,
escolhia um fio de prata,
que em pontos longos
rebordava sobre o tecido.

Leve, a chuva vinha
cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias
o vento e o frio
brigavam com as folhas
e espantavam os pássaros,
bastava a moça tecer
com seus belos fios dourados,
para que o sol voltasse
a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira
de um lado para outro
e batendo os grandes pentes do tear
para frente e para trás,
a moça passava os seus dias.

Nada lhe faltava.

Na hora da fome
tecia um lindo peixe,
com cuidado de escamas.

E eis que o peixe estava na mesa,
pronto para ser comido.

Se sede vinha,
suave era a lã cor de leite
que entremeava o tapete.

E à noite, depois de lançar
seu fio de escuridão,
dormia tranqüila.

Tecer era tudo o que fazia.

Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo,
ela própria trouxe o tempo
em que se sentiu sozinha,
e pela primeira vez
pensou em como seria bom
ter um marido ao lado.

Não esperou o dia seguinte.

Com capricho de quem tenta
uma coisa nunca conhecida,
começou a entremear no tapete
as lãs e as cores
que lhe dariam companhia.

E aos poucos seu desejo foi aparecendo,
chapéu emplumado, rosto barbado,
corpo aprumado, sapato engraxado.

Estava justamente acabando
de entremear o último fio
da ponta dos sapatos,
quando bateram à porta.

Nem precisou abrir.

O moço meteu a mão na maçaneta,
tirou o chapéu de pluma,
e foi entrando em sua vida.

Aquela noite, deitada no ombro dele,
a moça pensou nos lindos filhos
que teceria para aumentar ainda mais
a sua felicidade.

E feliz foi, durante algum tempo.

Mas se o homem tinha pensado em filhos,
logo os esqueceu.

Porque tinha descoberto
o poder do tear,
em nada mais pensou
a não ser nas coisas todas
que ele poderia lhe dar.

— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher.

E parecia justo,
agora que eram dois.

Exigiu que escolhesse
as mais belas lãs cor de tijolo,
fios verdes para os batentes,
e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa,
já não lhe pareceu suficiente.

— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou.

Sem querer resposta imediatamente
ordenou que fosse de pedra
com arremates em prata.

Dias e dias, semanas e meses
trabalhou a moça tecendo tetos e portas,
e pátios e escadas, e salas e poços.

A neve caía lá fora,
e ela não tinha tempo
para chamar o sol.

A noite chegava,
e ela não tinha tempo
para arrematar o dia.

Tecia e entristecia,
enquanto sem parar
batiam os pentes
acompanhando o ritmo da lançadeira.

Afinal o palácio ficou pronto.

E entre tantos cômodos,
o marido escolheu para ela e seu tear
o mais alto quarto da mais alta torre.

— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse.

E antes de trancar a porta à chave, advertiu:

— Faltam as estrebarias.

E não se esqueça dos cavalos!

Sem descanso tecia a mulher
os caprichos do marido,
enchendo o palácio de luxos,
os cofres de moedas,
as salas de criados.

Tecer era tudo o que fazia.

Tecer era tudo o que queria fazer.

E tecendo,
ela própria trouxe o tempo
em que sua tristeza lhe pareceu
maior que o palácio
com todos os seus tesouros.

E pela primeira vez
pensou em como seria bom
estar sozinha de novo.

Só esperou anoitecer.

Levantou-se enquanto o marido dormia
sonhando com novas exigências.

E descalça, para não fazer barulho,
subiu a longa escada da torre,
sentou-se ao tear.

Desta vez não precisou
escolher linha nenhuma.

Segurou a lançadeira ao contrário,
e jogando-a veloz
de um lado para o outro,
começou a desfazer seu tecido.

Desteceu os cavalos,
as carruagens,
as estrebarias,
os jardins.

Depois desteceu os criados e o palácio
e todas as maravilhas que continha.

E novamente se viu na sua casa pequena
e sorriu para o jardim além da janela.

A noite acabava
quando o marido
estranhando a cama dura,
acordou, e, espantado,
olhou em volta.

Não teve tempo de se levantar.

Ela já desfazia
o desenho escuro dos sapatos,
e ele viu seus pés desaparecendo,
sumindo as pernas.

Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo,
tomou o peito aprumado,
o emplumado chapéu.

Então, como se ouvisse
a chegada do sol,
a moça escolheu uma linha clara.

E foi passando-a devagar
entre os fios,
delicado traço de luz,
que a manhã repetiu
na linha do horizonte.


e então é isso
tecemos nossa vida
e as tramas
que a vida tem

esquecemos porém
que quando a trama
trama contra nós
é só ter
a coragem
de destecer
cada trama
nó por nó
e inventar nova trama
pra ser feliz
com alguém...



1/2 beijo
minha cara
minha doce
minha voz de anjo
moça bonita
tecelã na minha vida
junto comigo
nestas tramas
as mesmas tramas
que tantos tramam
onde de repente
se deixa de sonhar
e passa-se a viver
pelas coisas do ESTAR
esquecendo que
a maior valia da gente
continua no SER

SER FELIZ
POR MUITO AMAR




10embro
2oo9

antoniocarlos


Texto: A Moça Tecelã - “Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento”, Marina Colasanti - É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.
Música : Grito de Alerta - Gonzaguinha

Você é tão linda...














Você é
tão linda...



Estico meus braços
mas não consigo te tocar,
e o pensamento de você
é como se fosse luz,
brilhante e mágica,
encantadoramente
apaixonante,
pedaço de sonho,
meio mulher,
meio menina,

meio anjo,
um mistério inteiro
onde à noite escrevo
a poesia
que te
enviarei
durante o dia...

Ah como é bom imaginar-te,
e sonhar-te assim...

Meus dedos percorrendo
os teus vales
no vazio da noite
na ânsia de te encontrar
concreta ou real.


E
então me aconchegar
no teu corpo quente,
na tua boca ardente,
nos teus beijos de amante
teus olhos diamantes diante
de meus olhos lancinantes...

E te prendendo
dentro do meu abraço abissal,
tranco você prá sempre
nas alas do meu coração...

Quem sabe então assim,
voce repare em
mim?


É...

É o resto do que resta,
da noite imaginada
e que habita no centro
do que és,
nas margens
das imagens
do que pretendo ser...

Com você.

Então assim,
quando me afasto do
corpo
em que moras
para tomar folêgo
e mergulhar bem fundo
nos desejos que me assolam
o peito,
nesta saudade
e nesta vontade
que não tem jeito...


E
imaginar assim
você nua,
encoberta por um manto vermelho
feito da alma estelar que é tua,
bordada em fios de ouro de uma paixão
que é minha

delicada sob a luz da lua...

E idealizar assim,
que enquanto lês o texto meu,
que escrevi pensando em ti,
tua boca em batom carmin
se alarga
e você por inteira
me sorri!


Então...
amarrado a ti,
aconchego-me no sonho
em que me abraças carinhosamente...
e adormeço
e acordo.

Pensando...

Quem sabe então assim,
você volte prá
mim!

Bom dia Moça
dos olhos de nunca
mais!


Beijos nas estrelas
de tua mais profunda constelação...

Porque ainda vou sair

nestas horas de confusão
gritando teu nome
entre os carros
que vem e vão

Quem sabe então assim,
você repare em mim
ou não.


Por que finjo ter calma
se me apressa a solidão?
Por que finjo ter alma
se morro de paixão?


Fica bem...
assim


acho que
foi assim
ou não

teu medo

muito maior

que a tua solidão


neste inicio
de 10zembro...




Anonimo Veneziano - Tony Renis

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Covardemente






Aí diz o meu coração, que prazer tem bater, se ela não vai ouvir
Aí minha boca me diz, que prazer tem sorrir, se ela não me sorri também
Quem pode querer ser feliz, se não for por um grande amor
...Eu sei que vocês vão dizer


---------------------------------------

COVARDEMENTE


Ela invadiu os sonhos dele
covardemente
noite após noite
sem pedir permissão.

Foi entrando
e ficou por lá mesmo.


Ele relutou,
não quis mais dormir,
guerreou contra ela
com seu exército
de terracota,
atirou nela
com suas poderosas
balas de festim,
jogou bombas de chocolate,
tentou matá-la de amor.


Mas não venceu

e toda noite
ela reaparecia
para levá-lo a passear

por pontes e jardins,
lagos e vitórias régias,
lagunas e ninúfares,
vagalumes e colibris,
sorvetes e farmácias,
vivos e mortos

e outros lugares
que só os sonhos explicam.


Aos poucos
ele foi deixando de lutar
e começou a aceitar.

De aceitar,
começou a desejar.

Já queria dormir
pra não acordar mais,
queria que ela
o levasse pela mão,
para sempre.


Todos os dias
de sua vida
foram assim
e a sua vida era
sonhar com ela.


E era feliz
pois encontrou
a mulher dos seus sonhos
no lugar menos provável:

nos seus próprios sonhos.



E assim eles
envelheceram juntos
até o dia em que
ele realmente
não acordou mais.


Ela o tomou pela mão
para levá-lo
e, por fim,
deixou de aparecer.

E é isso Moça Bonita!

Quem pode querer ser feliz
se não for por amor?



Música : Rosa Passos - Desenho de Giz

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Casuarinas






Ouvi dizer que são milagre, noites com sol
Mas hoje eu sei não são miragem, noites com sol
Posso entender o que diz a rosa ao rouxinol
Peço um amor que me conceda noites com sol


.............


Casuarinas...


Crescemos rápido como casuarinas
naquele sol de terra quente
em que vivíamos.

Não criamos muitos ornamentos;
fomos plantas da terra seca.

Só que lambuzamos em pedra-sabão
a nossa unidade de escultura;
e de escultor.

Tessitura seca dentro do céu da boca.

Houve oásis nas horas de aconchego.

Um par de orelhas disposto a virar brinco.

Sem ourives, nossas jóias dinamitaram.

Um par de bocas disposto a virar boca.

E monte de mãos acenando o adeus.

Na vida há duas espécies de abandono.

Poder-se-ia dizer: real e imaginário.

O que abandona, e o que é abandonado.

Há leis que não mudam
sem que haja uma remodelação dos céus.

Há devires e deveres.

As atribulações
não começam no corpo.

Escalamos montanhas.

Ilhas sob a terra firme do nunca.

Arquipélagos que éramos,
agrupados n´algum seco de oceano.

Diferentes tamanhos e formatos.

Éramos bando de casuarinas estufadas.

Decalcados, peça a peça,
nas vestes que não nos serviam mais.

A tessitura quente dentro do céu da boca.

Um véu recolhendo os instintos.

Eu servia ateu, Deus.

Ensaios na sacristia da alma.

Poucas realizações,
mas muito talento para amar.

Aos poucos,
aprendíamos tanto mais o fracasso
que o abraço do aplauso.

Havia muita divisão compartilhada,
e um desejo triplo de sermos
eu, você, nós.

A escalada é íngreme,
sem tréguas para o corpo
em que se cultiva
o brotar de casuarinas,
estátuas em pedra-sabão,
umas poucas esculturas
nascendo urgentes,
personagens tecidos
de umidade-lágrima.

A vida é um anfiteatro,
úmido, com arquibancadas,
e no centro,
uma erosão,
para espetáculos públicos,
combates de feras,
ou de gladiadores;
jogos e representações.

Oval ou circular,
a vida é muito mais que
verbete de dicionário.

A vida não é biológica.

A vida é teatral.

Com direito a leão faminto.

Com direito a cristão.

Que ponham fogo em Roma!

Que a romaria cesse.

Que as feras se desenjaulem,
todas,
porque são dóceis
na mão do horror.

Venham pro palco, as aflições.
Tolas.

Que eu recomece,
de novo,
outra vez.

Aquele instinto de feto
de que eu me persuadi
a abortar.

Imberbe capacidade de ser gente,
um rosto púbere,
um ventre branco,
erodido de plasma poético.

Erodido de montanhas,
montanhoso,
montês.

Em uma platéia que esperava o que eu fui.

Éramos coesos de alma,
e mesmo na separação,
havia um sol vasto entre nós.

Era ela...

A moça bonita...

Se pedíssemos para o vento parar,
ela parava...

Se quiséssemos o vôo,
eis o planar no meio dos céus!

Ela, a única responsável
e sem que eu soubesse,
olhei o mundo
com os olhos dela.

Nenhuma representação de ator,
nenhuma necessidade de ser
atriz.

Só na vida.
Era amor.

Só por ela o meu ódio,
a minha pouca fé.

Que contradição à beira do mundo!

Precipícios escalados,
dupla de um,
bússola sem norte,
pólo no Equador.

Havia uma tarefa e eu cumpri.

Apreender um modo de ser
e estar no mundo.

Que diferença fez se encenei?

Acho que fechei os olhos num adeus.

O coração veio depois.

Além e só,
as montanhas removeram aquele sonho
que eu acreditava meu;
aquela Minas que eu sonhava minha,
aquela Ouro Preto em fim de tarde
às sombras do Itacolomy...

Meu espaço, sonho,
e toda relva atrás da cortina.

Secaram os pântanos,
planaltos desceram;
e o que sobrou?

O que fomos quando deixamos de ser
aquela agonia de espaços,
e de abraços?

Sobramos,
uns dentro dos outros,
alguns um pouco por fora.

Demorou até que
eu dissesse adeus.

No fim eu entrei,
uma vez mais,
eu fui correndo
contar para os outros
o milagre da ressurreição;
eu chorava de verdade,
por alguma espécie de transtorno
com a luz que eu via,
com o século que eu vivia;
era uma espécie de ressurreição
sem volta.

Ela foi subindo,
subindo...

Ela foi sumindo
sumindo...

Perdeu-se na poeira da estrada
que o retrovisor aos poucos
não mais mostrava...

Não criamos muitos ornamentos;
fomos plantas da terra seca.

Um par de orelhas
disposto a virar brinco.

O que abandona,
e o que é abandonado.

Muito talento para amar;
umas poucas esculturas
nascendo urgentes.

Montanha,
montanhoso,
montês.

Subiu tão alto,
que na montanha em que fiquei,
restaram somente:

eu,
e a des-inteira
humanidade.

..Depois, o que mais,
o que veio depois?

Uma recordação.

Do que fui eu.

Do que fui hoje.

Por ela,
e por todos nós...

E a vida
era assim
Moça Bonita.

Em Ouro Preto
a muitos anos atrás...


antoniOcarlos




















Ouro Preto -MG - Pico do Itacolomy


Música : Flávio Venturini - Noites com Sol