terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Um vulto sombrio





Todos amam precisamente o que lhes falta.

A escolha individual,

que se funda nessas considerações meramente relativas,
é bem mais determinada, mais decidida e mais exclusiva
do que a escolha que se baseie em considerações absolutas;
é desses aspectos relativos que vulgarmente nasce
o amor de paixão, enquanto os amores comuns e passageiros
só são guiados por considerações absolutas.

Nem sempre é a beleza regular e perfeita

que dá origem às grandes paixões.

Para uma inclinação verdadeiramente apaixonada

é necessária uma condição
que só nos é possível descrever
através de uma metáfora tirada à química.

As duas pessoas devem neutralizar-se uma à outra,

tal como um ácido e uma base alcalina num sal neutro.

Metafísica do Amor - Arthur Schopenhauer


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''O amor,
se existe,
não é uma entidade.

O amor
é um milhão
de pequenas coisas.

Não é possível
ter uma idéia genérica
do que seja o amor
ou dicionarizá-lo.

O amor
é uma flor murcha,
um marcador amarelo de textos,
um disquete de computador,
uma chave de fenda,
um quadro de avisos
onde se espeta
um bilhete,
um peso de papel azul
que reproduz
o globo terrestre,
uma cama desfeita
ao meio-dia
e um copo d'água
pela metade.


Folhas secas
que o vento varreu
para dentro de casa,
um vulto sombrio nos olhos
por causa de uma discussão
com alguém,
a pequena escultura mexicana
de um pássaro,
guardanapos de papel
sobre a mesa-de-cabeceira,
alguém que martela um prego
em outro apartamento,
uma lista telefônica aberta,
mais nada''.


Adriana Lisboa, in Um Beijo de Colombina


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então é isso moça bonita

Tudo é nada, e tudo um sonho finge ser.
Fernando Pessoa

1/2 beijo sabor amor antigo
antoniOcarlos
2009

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"Não,
não ofereço
perigo algum:
sou quieta como
folha de outono
esquecida entre as páginas
de um livro,
sou definida e clara
como o jarro
com a bacia de ágata
no canto do quarto
- se tomada com cuidado,
verto água límpida
sobre as mãos
para que se possa
refrescar o rosto
mas, se tocada
por dedos bruscos
num segundo
me estilhaço em cacos,
me esfarelo
em poeira dourada."


Caio Fernando Abreu, in Morangos Mofados


Música : Zélia Duncan & Simone - A Idade Do Céu

2 comentários:

Unknown disse...

TUDO!!
Beijo amigo querido!

Felina Mulher disse...

AC querido, quem foi que disse que as respostas estão prontas, e que o recomeço é começar do inicio, e que o inicio é o melhor ponto de partida?É msm a vida cheia de perguntas, e onde encontramos as respostas? Agindo!Erguendo os olhos, clareando as estrelas,para se fazer maior do que a propria altura ."A gente espera do mundo, o mundo espera de nós", como cantou,sabiamente, Lenine.Ou talves concordasse com as palavras de Raul:"Tente outra vez"!Em síntese:A vida é uma ciranda com muitos recomeços.Saudações à vc querido que sempre me deixa um pouco de ti e sabes me cativar com o carinho expansivo de todos os dias.
Beijos meus.