domingo, 10 de junho de 2007

VORAGEM

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...
Nada me prende a nada.

Quero cinqüenta coisas
ao mesmo tempo.

Anseio com uma angústia
de fome de carne
o que não sei que seja -

Definidamente
pelo indefinido...

Durmo irrequieto,
e vivo num sonhar irrequieto
de quem dorme irrequieto,
metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas
abstratas e necessárias.

Correram cortinas
de todas as hipóteses
que eu poderia ver da rua.

Não há na travessa achada
o número da porta que me deram.

Acordei para a mesma vida
para que tinha adormecido.

Até os meus exércitos sonhados
sofreram derrota.

Até os meus sonhos
se sentiram falsos
ao serem sonhados.

Até a vida só desejada me farta
- até essa vida...

Compreendo a intervalos desconexos;

Escrevo por lapsos de cansaço;
e um tédio que é até do tédio
arroja-me à praia.

Não sei que destino ou futuro
compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível
aguardam-me naufrago;
ou que palmares de literatura
me darão ao menos um verso.

Não, não sei isto,
nem outra coisa,
nem coisa nenhuma...

E, no fundo do meu espírito,
onde sonho o que sonhei,
nos campos últimos da alma,
onde memoro sem causa

(E o passado é uma névoa natural
de lágrimas falsas),

Nas estradas e atalhos
das florestas longínquas
onde supus o meu ser,
fogem desmantelados, últimos restos
da ilusão final,
os meus exércitos sonhados,
derrotados sem ter sido,
as minhas cortes por existir,
esfaceladas em Deus.

Outra vez te revejo,
cidade da minha infância
pavorosamente perdida...

Cidade triste e alegre,
outra vez sonho aqui...

Eu?

Mas sou eu o mesmo
que aqui vivi,

e aqui voltei,
e aqui tornei a voltar,
e a voltar.

E aqui de novo
tornei a voltar?

Ou somos todos os Eu
que estive aqui ou estiveram,
uma série de contas-entes
ligados por um fio-memória,
uma série de sonhos de mim
de alguém de fora de mim?

Outra vez te revejo,
com o coração mais longínquo,
a alma menos minha.

Outra vez te revejo
- Lisboa e Tejo e tudo -,
transeunte inútil de ti e de mim,
estrangeiro aqui como em toda a parte,
casual na vida como na alma,
fantasma a errar
em salas de recordações,
ao ruído dos ratos

e das tábuas que rangem
no castelo maldito
de ter que viver...

Outra vez te revejo,
sombra que passa
através das sombras,
e brilha
um momento
a uma luz fúnebre desconhecida,
e entra na noite
como um rastro de barco
se perde
na água que deixa de se ouvir...

Outra vez te revejo,
mas, ai, a mim não me revejo!

Partiu-se o espelho mágico
em que me revia idêntico,
e em cada fragmento fatídico
vejo só um bocado de mim -

um bocado de ti e de mim!...




in ~LISBON REVISITED (1926)by (Álvaro de Campos) ...
:)









ah! cada bocado
destes numa ânsia
numa fome
numa sede
numa voragem
sem fim
e no entanto
eu aqui
você aí
e a música já começou
e ninguém dançou

espero você

_____________

aNTONIocARLos
junh......Oh!
2oo7
:)


Ilha catarina - Clóvis e Marie



Terra de sol, no meio do mar,
mergulhar, velejar e pescar,
caminhar na praia...

Vou cantando e tocando
a música que vem com as ondas
Vou cantando e tocando
a música que vem com as ondas

Barulhinho que me acorda,
me dá corda lentamente
balançando numa rede

Sambaqui, Cacupé, Jurerê
Canasvieiras, Lagoinha, Brava
Moçambique, Barra da Lagoa
Galheta, Mole, Campeche
Caiera, Ribeirão, Naufragados
Açores, Pântano do sul

Vou cantando e tocando
a música que vem com as ondas

Boi, boi, boi da cara preta
Ilha Catarina
Boi, boi, boi da cara preta
Pega essa menina

O raio, o sol pediu a lua
Pega essa menina
O raio, o sol pediu a lua
Ilha catarina

..


by Marie Santini




















e Clóvis Montenegro de Lima



















mais informações?

http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=39241


e é isso
não é?

Este vídeo foi inspirado pela música Ilha Catarina, docemente me enviado a quase tres anos, por uma moça bonita, que mora lá na ilha...


Obrigado M&M


1/2 beijo sabor jurerê
antoniocarlos
junho
2oo7
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