sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Fulminante





FULL...
minante



Eu me planejei não me planejar.

Amor para mim é doideira,
descontrole, soluço de árvore na estrada.

Andar de cadarços desamarrados,
levar os ciscos e as ervas para a casa.

Arrastar as folhas e o solo.

Varrer a rua em direção à casa,
em movimento inverso.

Sujar a casa de mundo, de premência.

Invejo quem programa seu casamento
com antecedência,
com dois ou três anos de noivado.

Nunca fui assim, de fazer maquete,
de brincar de casa de boneca,
de planejar cada passo.

Família não é uma empresa.

Fali na família antes de ganhar alguma coisa.

Invejo quem só casa após segurança financeira.

Amor nunca me concedeu segurança.

Invejo quem condiciona o enlace
a uma lua-de-mel no exterior.

Que seja na saúde e na doença de cara,
na alegria e na tristeza de cara.

Relâmpago não é tão bonito sem chuva.

Relâmpago sem chuva pede esmola.

Quero a chuva junto do clarão,
o marulhar das calhas,
a água nas escadas das telhas.

Sou do amor fulminante,
como um enfarte.

Perder a razão.

Casar na hora, em dias,
esquecer que não era possível,
esquecer as dificuldades,
esquecer os entraves e pormenores.

Não dar tempo para criar problemas.

Não dar tempo para ponderar
com opiniões dos próximos.

Não aceitar conselhos de ressaca,
decidir ébrio e arrepender-se amando.

Ultrapassar-se.

Não sei como montei minha casa.

Amor junta os pertences,
não reclama.

Faz funcionar o que não existe.

Deixo a demora para Deus,
sou mesmo apressado em mim
para ser lento no corpo dela.

Invejo quem faz lista de presentes em lojas
e recebe metade da casa mobiliada
depois da aliança na mão esquerda.

A aliança nem conheceu
minha mão direita.

Mal cumprimentou.

Não recebi nada que está em casa,
não tive poupança, fundos de investimento.

Recebo os amigos.

Sobrevivi, pois precisava.

Não há desculpa para sobreviver.

Invejo quem premedita o casamento,
conhece os pais dela devagarinho,
faz as reivindicações antes do contrato,
briga por teimosia e capricho
pelo tom das paredes e marca dos ladrilhos.

Que escolhe a cor do cachorro
para combinar com o capacho.

Não consigo.

Caso para quebrar as regras,
para me aproximar no ato,
para não deixar o inferno dourar a pele.

Entro no primeiro apartamento e fico.

Os livros já são estantes.

Ponho o colchão no chão
e subo devagarinho com os meses.

Caso rápido
porque nunca fui sozinho dentro de mim,
porque a saliva é água potável,
porque amor é urgência.

Ajeita-se a vida como pode.

Um dia a menos
não será depois
um dia a mais.

Caso em segredo, a dois.

Beijo tem muito despudor
para ter medo.

Não me exibo, caso.

Não faço futuro,
caso logo
para fazer passado.

Fabrício Carpinejar

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

E eles conversaram madrugada adentro
e entre beijos se amaram
nenhum dos dois viu passar o tempo
porque eram tantos os assuntos que falaram
e no final ela o cobriu
com um cobertor de estrelas
seu corpo pura constelação
latejava sobre o dele, em neon
para que na escuridão
ele pudesse vê-la...



e foi isso não foi?

aNTONIocARLos


Musica : Leila Pinheiro - Oceano

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