terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A fome de terceiros





















"(...)


Eu tinha de gritar em furor
que a minha loucura
era mais sábia
que a sabedoria do pai,
que a minha enfermidade
era mais conforme
que a saúde da família,


que os meus remédios
não foram jamais inscritos
nos compêndios,

mas que existia
uma outra medicina (a minha!),
e que fora de mim
eu não reconhecia qualquer ciência,


e que era tudo
só uma questão de perspectiva,


e o que valia era o meu
e só o meu ponto de vista,
e que era requinte de saciados
testar a virtude da paciência
com a fome de terceiros,


e dizer tudo isso
num acesso verbal,
espasmódico, obsessivo,
virando a mesa dos sermões
num revertério,
destruindo travas,
ferrolhos e amarras,
tirando não obstante o nível,
atento ao prumo,
erguendo um outro equilíbrio,
e pondo força,


subindo sempre em altura,
retesando sobretudo
meus músculos clandestinos,
redescobrindo
sem demora em mim
todo o animal,
cascos, mandíbulas e esporas,
deixando que um sebo oleoso
cobrisse minha escultura
enquanto eu cavalgasse
fazendo minhas crinas
voarem como se fossem plumas,
amassando com minhas patas sagitárias
o ventre mole deste mundo,
consumindo neste pasto
um grão de trigo
e uma gorda fatia de cólera
embebida em vinho,



eu, o epilético, o possuído,
o tomado,


eu, o faminto,
arrolando na minha fala convulsa
a alma de uma chama,
um pano de verônica
e o espirro de tanta lama,
misturando no caldo deste fluxo
o nome salgado da irmã,

(...)retirando da fímbria
das palavras ternas
o sumo do meu punhal,

me exaltando de carne estremecida
na volúpia urgente de uma confissão
(que tremores, quantos sóis, que estertores!)


até que meu corpo lasso
num momento
tombasse docemente
de exaustão."



(Raduan Nassar)



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e porque
nós dois estamos juntos
até mesmo em solidão

me pergunto do porquê
passar a vida
enganando o coração...?

sabes?

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..


10embro
ore por nós
e torça por mim
com um abraço sem-fim!











aNTONIocARLos
2008
:)
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