sexta-feira, 29 de junho de 2007

Dama da Noite






















...



"E sonho esse sonho que se estende
em rua, em rua em rua
em vão."

(Lucia Villares: Papos de Anjo)



Como se eu estivesse por fora do movimento da vida.

A vida rolando por aí feito roda-gigante,
com todo mundo dentro, e eu aqui parada, pateta, sentada no bar.

Sem fazer nada, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros.

A linguagem que eles usam para se comunicar quando rodam
assim e assim por diante nessa roda-gigante.

Você tem um passe para a roda-gigante,
uma senha, um código, sei lá.

Você fala qualquer coisa tipo bá, por exemplo,
então o cara deixa você entrar, sentar e rodar junto com os outros.

Mas eu fico sempre do lado de fora.

Aqui parada, sem saber a palavra certa,
sem conseguir adivinhar.

Olhando de fora, a cara cheia, louca de vontade
de estar lá, rodando junto com eles nessa roda idiota
- tá me entendendo, garotão?

Nada, você não entende nada.

Dama da noite. todos me chamam
e nem sabem que durmo o dia inteiro.

Não suporto: luz, também nunca tenho nada pra fazer - o quê?
Umas rendas aí.

É, macetes.
Não dou detalhe, adianta insistir.
Mutreta, trambique, muamba.
Já falei: não adianta insistir, boy .

Aprendi que, se eu der detalhe,
você vai sacar que tenho grana e se eu tenho grana
você vai querer foder comigo só porque eu tenho grana.

E acontece que eu ainda sou babaca, pateta e ridícula
o suficiente para estar procurando
O verdadeiro amor.

Pára de rir, senão te jogo já este copo na cara.

Pago o copo, a bebida.
Pago o estrago e até o bar, se ficar a fim de quebrar tudo.

Se eu tô tesuda e você anda duro e eu precisar de cacete,
compro o teu, pago o teu.

Quanto custa?

Me diz que eu pago.

Pago bebida, comida, dormida.

E pago foda também, se for preciso.
Pego, claro que eu pego.
Pego sim, pego depois.
É grande?
Gosto de grande, bem grosso.

Agora não.
Agora quero falar na roda.
Essa roda, você não vê, garotão?
Está por aí. rodando aqui mesmo.
Olha em volta, cara.
Bem do teu lado.

Naquela mina ali, de preto, a de cabelo arrepiadinho.
Tá bom, eu sei: pelo menos dois terços do bar veste preto
e tem cabelo arrepiadinho, inclusive nós.

Sabe que, se há uns dez anos
eu pensasse em mim agora aqui sentada com você,
eu não ia acreditar?

Preto absorve vibração negativa, eu pensava.
O contrário de branco, branco reflete.

Mas acho que essa moçada tá mais a fim mesmo
é de absorver, chupar até o fundo do mal - hein?

Depois, até posso.
Tem problema, não.

Mas não é disso que estou falando agora, meu bem.
Você não gosta?
Ah, não me diga, garotinho.

Mas se eu pago a bebida, eu digo o que eu quiser, entendeu?
Eu digo meu-bem assim desse jeito, do jeito que eu bem entender.
Digo e repito: meu-bem-meu-bem-meu-bem.
Pego no seu queixo a hora que eu quiser também,
enquanto digo e repito e redigo meu-bem-meu-bem.

Queixo furadinho, hein?
Já observei que homem de queixo furadinho gosta mesmo é de dar o rabo.
Você já deu o seu?

Pelo amor de Deus,
não me venha com aquela história tipo sabe,
uma noite, na casa de um pessoal em Boiçucanga,
tive que dormir na mesma cama com um carinha que.

Todo machinho da sua idade
tem loucura por dar o rabo, meu bem.

Ascendente Câncer, eu sei: cara de lua,
bunda gordinha e cu aceso.

Não é vergonha nenhuma: tá nos astros, boy.

Ou então é veado mesmo, e tudo bem.

Levanta não, te pago outra vodca, quer?

Só pra deixar eu falar mais na roda.

Você é muito garoto, não entende dessas coisas.

Deixa a vida te lavrar a cara, antes, então a gente.

Bicho, esquisito: eu ia dizer alma, sabia?

Quer que eu diga?
Tá bom, se você faz tanta questão, posso dizer.
Será que ainda consigo, como é que era mesmo?

Assim: deixa a vida te lavrar a alma, antes, então a gente conversa.
Deixa você passar dos trinta, trinta e cinco,
ir chegando nos quarenta e não casar
e nem ter esses monstros que eles chamam de filhos,
casa própria nem porra nenhuma.

Acordar no meio da tarde, de ressaca,
olhar sua cara arrebentada no espelho.

Sozinho em casa, sozinho na cidade, sozinho no mundo.

Vai doer tanto, menino.

Ai como eu queria tanto agora ter uma alma portuguesa
para te aconchegar ao meu seio
e te poupar essas futuras dores dilaceradas.

Como queria tanto saber poder te avisar:
vai pelo caminho da esquerda, boy,
que pelo da direita tem lobo mau e solidão medonha.

A roda?

Não sei se é você que escolhe, não.

Olha bem pra mim
- tenho cara de quem escolheu alguma coisa na vida?

Quando dei por mim, todo mundo já tinha decorado
a tal palavrinha-chave e tava a mil,
seu lugarzinho seguro, rodando na roda.

Menos eu, menos eu.

Quem roda na roda fica contente.

Quem não roda se fode.

Que nem eu, você acha que eu pareço muito fodida?

Um pouco eu sei que sim, mas fala a verdade: muito?

Falso, eu tenho uns amigos, sim.
Fodidos que nem eu.
Prefiro não andar com eles, me fazem mal.

Gente da minha idade, mesmo tipo de.
Ia dizer problema, puro hábito: não tem problema.
Você sabe, um saco.

Que nem espelho: eu olho pra cara fodida deles
e tá lá escrita escarrada a minha própria cara fodida também,
igualzinha à cara deles.

Alguns rodam na roda, mas rodam fodidamente.

Não rodam que nem você.
Você é tão inocente, tão idiotinha
com essa camisinha Mr. Wonderful.
Inocente porque nem sabe que é inocente.

Nem eles, meus amigos fodidos, sabem que não são mais.

Tem umas coisas que a gente vai deixando, vai deixando,
vai deixando de ser e nem percebe.
Quando viu, babau, já não é mais.

Mocidade é isso aí, sabia?
Sabe nada: você roda na roda também, quer uma prova?

Todo esse pessoal de preto e cabelo arrepiadinho sorri pra você
porque você é igual a eles.

Se pintar uma festa, te dão um toque,
mesmo sem te conhecer.

Isso é rodar na roda, meu bem.

Pra mim, não.
Nenhum sorriso.
Cumplicidade zero.

Eu não sou igual a eles, eles sabem disso.

Dama da noite, eles falam, eu sei.

Quando não falam coisa mais escrota,
porque dama da noite é até bonito, eu acho.
Aquela flor de cheiro enjoativo que só cheira de noite, sabe qual?

Sabe porra: você nasceu dentro de um apartamento, vendo tevê.

Não sabe nada. fora essas coisas de vídeo,
performance, high-tech, punk, dark. computador, heavy-metal e o caralho.

Sabia que eu até vezenquando tenho mais pena de você
e desses arrepiadinhos de preto do que de mim
e daqueles meus amigos fodidos?
A gente teve uma hora que parecia que ia dar certo.
Ia dar, ia dar. sabe quando vai dar?
Pra vocês, nem isso.

A gente teve a ilusão,
mas vocês chegaram depois que
mataram a ilusão da gente.

Tava tudo morto quando você nasceu, boy,
e eu já era puta velha.

Então eu tenho pena.

Acho que sou melhor,
sei porque peguei a coisa viva.

Tá bom, desculpa, gatinho.
Melhor, melhor não.
Eu tive mais sorte, foi isso?
Eu cheguei antes.

E até me pergunto se não é sorte também
estar do lado de fora dessa roda besta
que roda sem fim, sem mim.
No fundo, tenho nojo dela - você?

Você não viu nada, você nem viu o amor.

Que idade você tem, vinte?
Tem cara de doze.

Já nasceu de camisinha em punho,
morrendo de medo de pegar Aids.

Vírus que mata. neguinho, vírus do amor.

Deu a bundinha, comeu cuzinho. pronto: paranóia total.

Semana seguinte, nasce uma espinha na cara
e salve-se quem puder: baixou Emílio Ribas.

Caganeira, tosse seca, gânglios generalizados.

Õ boy, que grande merda fizeram com a tua cabecinha, hein?

Você nem beija na boca sem morrer de cagaço.

Transmite pela saliva, você leu em algum lugar.

Você nem passa a mão em peito molhado
sem ficar de cu na mão.
Transmite pelo suor, você leu em algum lugar.

Supondo que você lê, claro.

Conta pra tia: você lê, meu bem?

Nada, você não lê nada.
Você vê pela tevê, eu sei.
Mas na tevê também dá, o tempo todo:
amor mata amor mata amor mata.
Pega até de ficar do lado,
beber do mesmo copo.

Já pensou se eu tivesse?
Eu, que já dei pra meia cidade
e ainda por cima adoro veado.

Eu sou a dama da noite que vai te contaminar
com seu perfume venenoso e mortal.

Eu sou a flor carnívora e noturna que vai te entontecer
e te arrastar para o fundo de seu jardim pestilento.

Eu sou a dama maldita que, sem nenhuma piedade,
vai te poluir com todos os líquidos,
contaminar teu sangue com todos os vírus.

Cuidado comigo: eu sou a dama que mata, boy.

Já chupou buceta de mulher?
Claro que não, eu sei: pode matar.

Nem caralho de homem: pode matar.
Já sentiu aquele cheiro molhado
que as pessoas têm nas virilhas quando tiram a roupa?

Está escrito na sua cara,
tudo que você não viu nem fez
está escrito nessa sua cara
que já nasceu de máscara pregada.

Você já nasceu proibido
de tocar no corpo do outro.

Punheta pode, eu sei,
mas essa sede de outro corpo
é que nos deixa loucos
e vai matando a gente aos pouquinhos.

Você não conhece esse gosto
que é o gosto que faz com que a gente
fique fora da roda que roda e roda
e que se foda rodando sem parar,
porque o rodar dela é o rodar
de quem consegue fingir que não viu o que viu.

O boy, esse mundo sujo todo
pesando em cima de você,
muito mais do que de mim
e eu ainda nem comecei a falar na morte...

Já viu gente morta, boy?
É feio, boy.

A morte é muito feia, muito suja, muito triste.

Queria eu tanto ser assim delicada e poderosa,
para te conceder a vida eterna.

Queria ser uma dama nobre e rica
para te encerrar na torre do meu castelo
e poupar você desse encontro inevitável com a morte.

Cara a cara com ela, você já esteve?
Eu, sim, tantas vezes.
Eu sou curtida, meu bem.

A gente lê na sua cara que nunca.

Esse furinho de veado no queixo,
esse olhinho verde me olhando assim
que nem eu fosse a Isabella Rossellini
levando porrada e gostando e pedindo
eat me eat me, escrota e deslumbrante.

Essa tontura que você está sentindo não é porre, não.

É vertigem do pecado, meu bem, tontura do veneno.

O que que você vai contar amanhã na escola, hein?

Sim, porque vocé ainda deve ir à escola,
de lancheira e tudo.

Já sei: conheci uma mina meio coroa,
porra-louca demais.

Cretino, cretino, pobre anjo cretino
do fim de todas as coisas.

Esse caralhinho gostoso aí,
escondido no meio das asas,
é só isso que você tem por enquanto.

Um caralhinho gostoso, sem marca nenhuma.
Todo rosadinho.
E burro.

Porque nem brochar você deve ter brochado ainda.

Acorda de pau duro, uma tábua,
tem tesão por tudo, até por fechadura.

Quantas por dia?
Muito bem, parabéns: você tá na idade.

Mas anota aí pro teu futuro cair na real:
essa sede, ninguém mata.

Sexo é na cabeça: você não consegue nunca.
Sexo é só na imaginação.

Você goza com aquilo que imagina que te dá o gozo,
não com uma pessoa real, entendeu?

Você goza sempre com o que tá na sua cabeça,
não com quem tá na cama.
Sexo é mentira,
sexo é loucura,
sexo é sozinho, boy.

Eu, cansei.
Já não estou mais na idade.

Quantos?
Ah, você não vai acreditar, esquece.
O que importa é que você
entra por um ouvido meu e sai pelo outro, sabia?

Você não fica. você não marca.
Eu sei que fico em você, eu sei que marco você.
Marco fundo.

Eu sei que, daqui a um tempo,
quando você estiver rodando na roda,
vai lembrar que, uma noite.
sentou ao lado de uma mina louca
que te disse coisas,
que te falou no sexo,
na solidão, na morte.

Feia, tão feia a morte, boy.

A pessoa fica meio verde, sabe?
Da cor quase assim desse molho de espinafre frio.

Mais clarinho um pouco,
mas isso nem é o pior.

Tem uma coisa que já não está mais ali,
isso é o mais triste.

Você olha, olha e olha
e o corpo fica assim que nem uma cadeira.
Uma mesa, um cinzeiro, um prato vazio.
Uma coisa sem nada dentro.

Que nem casca de amendoim
jogada na areia,
é assim que a gente fica quando morre,
viu, boy?

E você, já descobriu
que um dia também vai morrer?

Dou, claro.
Ficou nervosinho, quer cigarro?
Mas nem fumar você fuma, o quê?

Compreendo, compreendo sim,
eu compreendo sempre,
sou uma mulher muito compreensiva.

Sou tão maravilhosamente compreensiva
e tudo que, se levar você pra minha cama agora
e amanhã de manhã
você tiver me roubado toda a grana,
não pense que vou achar você um filho da puta.

Não é o máximo da compreensão?

Eu vou achar que você tá na sua,
um garotinho roubando uma mulher meio pirada,
meio coroa, que mexeu com sua cabecinha de anjo cretino
desse nojento fim de todas as coisas.

Tá tudo bem, é assim que as coisas são:
ca-pi-ta-lis-tas, em letras góticas de neon.

Mulher pirada e meio coroa
que nem eu tem mais é que ser roubada
por um garotinho ïmbecil e tesudinho como você.

Só pra deixar de ser burra caindo outra vez
nessa armadilha de sexo.
Fissura, estou ficando tonta.

Essa roda girando girando sem parar.
Olha bem: quem roda nela?

As mocinhas que querem casar,
os mocinhos a fim de grana pra comprar um carro,
os executivozinhos a fim de poder e dólares,
os casais de saco cheio um do outro,
mas segurando umas.

Estar fora da roda é não segurar nenhuma,
não querer nada.

Feito eu:
não seguro picas, não quero ninguém.
Nem você.
Quero não, boy.

Se eu quiser, posso ter.

Afinal, trata-se apenas
de um cheque a menos no talão,
mais barato que um par de sapatos.

Mas eu quero mais
é aquilo que não posso comprar.

Nem é você que eu espero, já te falei.

Aquele um vai entrar um dia talvez
por essa mesma porta, sem avisar.
Diferente dessa gente toda vestida de preto,
com cabelo arrepiadinho.
Se quiser eu piro, e imagino ele
de capa de gabardine, chapéu molhado,
barba de dois dias, cigarro no canto da boca,
bem noir.
Mas isso é filme, ele não.
Ele é de um jeito que ainda não sei,
porque nem vi.
Vai olhar direto para mim.
Ele vai sentar na minha mesa,
me olhar no olho,
pegar na minha mão,
encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer:
vem comigo.


É por ele que eu venho aqui, boy,
quase toda noite.

Não por você,
por outros como você.

Pra ele, me guardo.
Ria de mim, mas estou aqui parada,
bêbada, pateta e ridícula,
só porque no meio desse lixo todo
procuro o verdadeiro amor.

Cuidado, comigo: um dia encontro.

Só por ele, por esse que ainda não veio,
te deixo essa grana agora, precisa troco não,
pego a minha bolsa e dou a fora já.

Está quase amanhecendo, boy.

As damas da noite recolhem seu perfume
com a luz do dia.
Na sombra, sozinhas. envenenam a si próprias
com loucas fantasias.

Divida essa sua juventude estúpida
com a gatinha ali do lado, meu bem.

Eu vou embora sozinha.

Eu tenho um sonho,
eu tenho um destino,
e se bater o carro
e arrebentar a cara toda saindo daqui.
continua tudo certo.

Fora da roda,
montada na minha loucura.

Parada pateta ridícula
porra-louca solitária venenosa.

Pós-tudo, sabe como?
Darkérrima, modernésima,
puro simulacro.

Dá minha jaqueta, boy,
que faz um puta frio lá fora
e quando chega essa hora da noite
eu me desencanto.

Viro outra vez aquilo que sou todo dia,
fechada sozinha perdida no meu quarto,
longe da roda e de tudo:
uma criança assustada.


by Caio Fernando Abreu - Dama da Noite

__________________________________________



então moça bonita
é isso
junho fim
...


aNTONIocARLos
2007
:)
___faça o seu comentário aqui em baixo----V

quarta-feira, 27 de junho de 2007

O que faz você feliz?



O que faz você feliz?
O que me faz feliz?

Me faz feliz,
A civilidade de pessoas especiais
que todos os dias nos oferecem
o melhor que tem dentro de si,
sem exigir contrapartida.

Me faz feliz,
De repente ser surpreendido
por ouvir por acaso
alguém despercebidamente
falando bem de mim,
o que de alguma maneira
me identifica como um homem
com civilidade


È o sentimento da consideração,
o fazer porque gostamos impunemente,
sem que peçam , sem que exijam...

O Prazer de fazer por si mesmo.

Certo que,
corre-se o risco de ser mal entendido,
recebido ou amado.

Corre-se até mesmo o risco
de ser odiado, por aqueles
que pelo medo e risco de ser
repudiado ou rechaçado,
permanecem de braços cruzados
como sentinelas das críticas.

Ousar é perigoso
Querer ser feliz hoje em dia também

Tenho a certeza que é mais fácil
alguém simpatizar conosco
porque choramos
do que por darmos risadas
ou sermos felizes...

São aquelas famosas reações :
-Bobo ri a toa
-Viste um passarinho azul hoje?
-Etc etc

E a resposta?

Não há o que responder...
a não ser com o nosso delicioso
silencio da paz e felicidade interior.

Ser colorido em um mundo de cinzas
é correr o risco de ser mal interpretado
e estar disposto a dar muitas explicações...

E adianta explicar?

Falar que estamos rindo
porque vimos um cachorro parado
na beira da rua
esperando o semáforo abrir
para atravessar elegantemente,
sem olhar pros lados???

Alguém vai entender?

Você com certeza eu sei,
que se for como nós sim....
afinal temos muito mais em comum
do que uma simples conjunção zodiacal.

Mas porque estou escrevendo isso?

O que me faz feliz?

Um monte de coisas me faz feliz...

Mas comecei a estória pra contar que hoje ,
agora a pouco tive que ir até o centro de Porto Alegre
( moro na zona sul da cidade )
e na volta, no meio de uma subida ,
no meio de uma quarta feira,
como estava sem transito ,
eu que todos os dias
subo aquela ladeira
a um milhão de quilômetros por hora,
sem querer
olhei para o lado
e a vi...
Uauuuuuuuuuuuu
Que coisa mais linda

Que milhão de pensamentos
ela me ocasionou...
uma reação em cadeia,
sentimentos antigos
surgiram aos borbotões,
por causa da simples visão
daquela maravilha.


O que era?

Quem era?



Brincadeira,
mas lá estava toda faceira e linda
plantada bem na frente da casa,
no meio do jardim ,
uma linda Quaresmeira , ou Manacá...
...............................


















Hum , mas porque todo este escândalo?
Porque quando vim pra Porto Alegre,
percebi que este tipo de arvore
nativo da mata atlântica
só é encontrado até o norte de Santa Catarina....

Não tem naturalmente por aqui....

Uma arvore belíssima
que é o encantamento da maioria dos paulistas
que como eu gosta de flores e arvores.

Sim porque na época da Quaresma ( daí o nome )
estas arvores iluminam
com seu multicolorido toda a serra do Mar...

Fazendo parte da paisagem típica
de quem desce de carro para Santos ,
pela Rodovia Anchieta ou Imigrantes.

A mais bela característica é que
olhando as flores multicoloridas,
você não consegue identificar
como é que pode haver flores
que variam do branco ao roxo
tudo numa mesma arvore.

A explicação é simples,
as flores abrem brancas
e com o passar dos dias
vão adotando tons de azul ,
depois roxo até caírem do pé...


















~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~



Morrem depois de dar um belo espetáculo de luz e cor.

Então hoje ,
uma Quaresmeira
num grandioso gesto de Civilidade,
me fez feliz...

Me fez feliz pela beleza dela em si,
ali de graça, oferecendo pra todos que passavam
o melhor que uma arvore pode dar a nós humanos...

Fez isso porque é o destino dos Manacás, florirem,
se nem olhamos ou prestamos atenção,
ou se retribuímos com adubo, água, poda
ou um simples sorriso de encantamento
isso é problema nosso não dela


Fico feliz também com a civilidade
da pessoa que a plantou alí...

Ao escolher plantá-la na frente da casa, no jardim,
e não nos fundos, ela estava compartilhando com todos
a alegria que mais tarde se traduziria em flores,
com certeza não esperando nada mais
que o simples encantamento
de quem por lá passasse.

Me fez lembrar que um dia a muito tempo atrás,
eu também sai pelo meio do mato,
até achar uma muda pequenina,
arrancada com todo cuidado
lá do topo da serra do mar,
e depois cuidadosamente plantada
na frente de minha casa...

Sim, eu fiz por mim, mas com certeza,
aquela Quaresmeira linda ,
coloriu e alegrou meus dias
que naquele tempo eram
muito tristes e cinzas

Fez isso todos os anos
até o dia , oito anos depois
em que um temporal a arrancou da terra ,
encerrando sua vida de encantamento
para todos os que passavam pela rua.

Eu chorei,
mas ao mesmo tempo fiquei feliz....
tudo tem seu tempo...
a natureza a tinha plantado no meio da mata,
onde ela não precisava de proteção contra ventos fortes,
eu replantei sem atentar pra isso
e depois a própria natureza veio colher...



fechou-se o ciclo dela...
como mais tarde se fecharia
aquele meu, triste e cinza


Então é isso dona moça bonita...

Hoje, um manacá me fez feliz
E você?
O que te fez feliz hoje?
Conta pra mim?






















aNTONiocARLos
junho
2007


:)




>

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Onde guardo a memória

ONTEM..........25/6/2007

Olá querido.. Estou enviando a vc nosso contato que está quase fazendo 1 aninho.. soprando velinhas... rsrsrsr
Doce lembrança eu achei e me deliciei relendo sua resposta verdadeira.
Comprovando a veracidade do que vc me disse que não sumiria da vida das pessoas.. e não sumiu.

Prestes a completar um ano de sua resposta,


















, percebi a sua verdade, de homem feito, inteiro e honesto com seus sentimentos, sem ilusões e sem utopias sobre si mesmo.
E melhor, sem iludir ninguém.
Parabéns meu amado estranho, doce, romãntico incurável.
Obrigado por vc existir.

Na minha vida e de tantas outras pessoas.
Não é paixão, é pura gratidão.
É amor humano incondicional.
Beijo no teu coração!!!



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A UM ANO ATRÁS....

Oi anjo.
Novamente emocionante.
Meu primeiro livro .
Na minha mente gravado e vem como um sonho na minha realidade revirada por momentos maravilhosos em que leio suas mensagens.
Voce me cativou.
Mas não é responsavel por isso.
Imagino o que acontece e suas pretensões.
Você deve ser um ser especial.
Mas imagino que muitas tem mais tempo que eu pra cativar você. Palavras as vezes não traduzem fielmente o que pensamos ou sentimos.






















Por isso, querido poeta imaginário, deixo todo meu afeto, minha ternura e a certeza de que tem em mim uma amiga que cativou vc mesmo sem vc saber. Não desapareça da vida das pessoas a quem cativou. Algumas não suportariam tal ausência de "momentos de extase e embriaguez da alma" que voce propicia a elas.
Eu penso q suportaria, baseada no meu entendimento sobre como voce age com as mulheres.
Sendo assim querido.
Mil beijos.

Ps.: Responda por favor.

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Oi Nil...

Independente do que penses...eu sou sim, muito responsável por aquilo e por aqueles que cativo..
Mas por que cativo?
Na realidade não existe em mim, a intenção de cativar...apenas uma verdadeira vontade de compartilhar com pessoas tão ou mais sensiveis que eu ...as coisas que me arrepiam, as coisas que me emocionam e me fazem um pouco melhor como homem e como gente...

O meu prazer termina aí...no exato momento em que dou um ENTER e envio...jamais fiz isso com o propósito de ter algum tipo de retorno...estou acostumado as perdas moça bonita...coleciono poesias desde os meus 10 anos de idade...aquilo que durante muito tempo eram pedaços de papel, cadernos , onde eu anotava coisas que me faziam pensar ou sentir o mais profundo de minha alma, com a minha entrada na informática em 1988, acabou se transformando em um imenso arquivo, um gigantesco banco de dados, onde guardo a memória do romântico que sempre fui...




















Além de textos, de poesias e de muitas coisas que eu mesmo escrevo em meus momentos frequentes de solidão...tenho um imenso arquivo de imagens e um outro de mesmo tamanho com músicas...

Dos inumeros emails que publico todos os dias...alguns, algumas vezes recebo de pessoas que tem o mesmo sentimento, coisas que considero bonitas e que salvo em meus arquivos para reenviar mais tarde...

Acho que o que acabei de falar, pode dirimir qualquer das duvidas que pos acaso tenhas sobre minhas intenções...ou não...mas isso não me preocupa...não me preocupa porque não me considero especial ...acho que isso é um sentimento de quem gosta da gente e explicita isso com atitudes...

Com certeza algumas pessoas tem muito mais tempo pra cativar do que voce Nil...mas o valor das coisas não está diretamente ligado ao tempo, mas sim a intensidade...sendo assim , não se sinta por favor, menos que ninguém...porque isso não tem o menor sentido ...mesmo porque a grande recompensa é receber de ti, e-mails como este onde falas de teu carinho por mim...

Esta é a paga...o que mais pode querer uma pessoa que um gesto tão genuino de afeto e de ternura?

Mas fiquei mesmo impressionado por aquilo que escreves no final do e-mail. Não entendi o significado do termo desaparecer da vida das pessoas...juro que adoraria se voce fosse mais clara, ou mais direta...peço que abra seu coração comigo e não deixe nada subentendido...seja transparente por favor...mesmo porque, adianto que tenho amigos e amigas que recebem meus e-mails a mais de oito anos ...e nunca tiveram este tipo de preocupação que voce declara

O que foi que aconteceu que fez voce entrar neste assunto ?
Por quem voce fala?
Quem seriam estas " algumas "???

Como é o teu entendimento do meu modo de agir sobre as mulheres?
O que te preocupa?
O que está te incomodando NIL?


antonio carlos

ps- responda por favor...acho que diante de uma série de e-mails que venho recebendo de outras pessoas, aflitas com o mesmo assunto, começo a imaginar que algo de muito triste está acontecendo e peço a tua ajuda para esclarecer e entender o que está se passando...
do fundo do coração

um beijo
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~


uma troca de emails
um tempo
uma moça bonita
Nilcéia Miranda...............










é isso?
foi isso moça !


aNTONiocARLos
junho
2007


:)









Renda-se...






















"



Renda-se,
como eu me rendi...

Mergulhe no que você
não conhece,
como eu mergulhei...

Não se preocupe
em entender...

Viver
ultrapassa
qualquer entendimento...

Não exija garantias
para amar...

O amor
é a ousadia
derrubando
qualquer noção
de segurança
e de tempo"


....sobre Clarice Lispector


by charles olivier









Antonio Carlos
junho
2007


:)




És hábil com teu punhal.





















"

És hábil com teu punhal.

Sabes da beleza e do perigo
Que a ele são inerentes.
Enquanto com sua ponta
Escreves poemas de amor,
Sabes que com seu fio
Matas as almas que te lêem.

És mestre na arte de apunhalar.
E eu,
Ingenuamente,
Enquanto leio tuas palavras,
Deixo-me matar por ti.
E assim morro,
Doce e dolorosamente,
Cruelmente,
Um pouco a cada dia.


by Isabella Benício


recebido ontem, da minha querida Nel Calazans
juntamente com a seguinte observação:

"Sem comentários hoje, bruxo que conta o tempo de uma das maneiras mais gostosas que conheço...palavreando..."

~~~~~~~~~~~~~~~~
é isso...
moça bonita
que perto do Pantanal
habita

obrigado

neste encerrar de junho

com PortoAlegre

de manhã azul e fria

2oo7
antoniocarlos
:)



sábado, 23 de junho de 2007

TRÊS MARIAS...





















"
O velho Cessna cortava os céus.

Embaixo, o rio seco
estava salpicado de ilhotas.

De repente a pressão do óleo
começou a baixar
e o piloto resolveu pousar
no primeiro lugar que aparecesse.

E este lugar surgiu
sob a forma de uma ilha
de tamanho considerável, que,
imponentemente e
sobrepujando todas as outras,
era o lugar ideal para um pouso.

As rodas do Cessna
tocaram suavemente o solo arenoso,
num pouso perfeito.

A pane foi sanada
com a colocação do óleo que,
previdentemente, existia no avião
para situações de tal natureza.

Antes de reiniciar a viagem,
o piloto examinou aquele lugar.

A ilha, como as demais que a cercavam,
só aparecia na época da seca e,
em situação normal,
era parte do leito do Araguaia.

Lugar belíssimo
de uma areia alva e fina,
cercado por águas barrentas
e coberto com pedrinhas multicores.

O piloto decolou,
levando consigo dez pedrinhas,
escolhidas a dedo,
que teriam finalidade dupla:
seriam recordação
daquele lugar fabuloso
e excelente presente para sua filhinha.

Assim, a ilha ficou para trás;
agora só uma coisa realmente interessava,
a pressão do óleo,
que deveria permanecer normal
até a próxima etapa da rota.

O tempo passou e um tenente
continuava vivendo a sua vida
e uma garota loura
juntara à sua coleção de bonecas
um punhado de pedrinhas.

A ilha fora esquecida
até que certo dia,
um joalheiro famoso, ao visitar o oficial,
teve a sua atenção despertada para as pedrinhas,
que no momento serviam de peças
num jogo de três-marias

.- Tenente, onde o senhor encontrou estes cascalhos?

Essa pergunta
saiu dos lábios do visitante
numa forma de súplica
e intensa curiosidade.

O tenente explicou então
a sua rápida permanência na ilha:

- Pois saiba, concluiu o joalheiro,
que essas pedras são pedras preciosas!

E, separando uma menor,
preta, brilhante e luzidia, disse:

- Isto é satélite de diamante;
sua filha brinca de três-marias
com uma autêntica fortuna.

Não é preciso dizer
o que se passou com aquele oficial,
nem afirmar que, a partir de então,
ele foi o mais constante piloto daquela rota.

O destino colocou-lhe nas mãos
uma fortuna imensa;

durante uma fração de tempo
ele teve aos seus pés
milhares e milhares de pedras preciosas
e foi um autêntico Ali Babá
na caverna dos quarenta ladrões.

Talvez tenha sido o homem
mais rico da terra
naquele quarto de hora
em que permaneceu na ilha!

Mas o seu garimpo,
aquele tesouro imenso, e a sua ilha
existiam agora apenas na imaginação.

O Araguaia sepultara para sempre aquele lugar
e nunca mais foi possível localizá-lo.

Todos nós, como aquele piloto,
encontraremos,
se já não encontramos,
uma ilha no vôo de nossas vidas.

Ela conterá também
um rico garimpo,
o garimpo do amor,
e talvez seja mais preciosa
do que a ilha encontrada
no Araguaia
e muitas vezes,
como aquele piloto,
pousaremos despreocupados,
conheceremos a ilha,
que poderá ter
o nome doce de alguém,
poderá denominar-se
juventude,
ou talvez seja mesmo
uma ilha perdida
nas praias do nordeste.

Mas, se a ilusão e a ânsia
por sensações novas
nos fizerem decolar,
sem ao menos procurarmos
guardar o local onde estivemos
ou deixar nele uma placa com os dizeres:

"Esta ilha é minha"!!!!

E assim, levaremos
somente algumas pedras preciosas,
sob a forma de recordações
de um beijo,
de um carinho,
de um mar verde
e do vento,
apagando na areia
os nomes escritos com o coração.

E quando um joalheiro
famoso, conhecido
como o Senhor-Tempo,
nos disser que perdemos um garimpo,
voltaremos atrás,
como aquele oficial,
mas será tarde,
porque,
como o Araguaia,
o passado terá sepultado a nossa ilha.

Ficarão apenas,
como lembranças,
algumas pedras chamadas:

SAUDADES
de um nome,
de um carinho,
de um dia
de uma voz no telefone
de um e-mail
de uma noite
de uma lua cheia
de um riso
de uma mensagem de bom dia...


é isso...
e por isso
a ligeira certeza...

pois
conheço muito de pedras
daquelas com as quais trabalhei mais de 8 anos em Belo Horizonte
e de todas as outras que encontrei pelos caminhos

por isso
não posso
perder a oportunidade
sei já
o que trazes
no íntimo

dona Moça...

em junho

2oo7
antoniocarlos
:)





SOBRE DEUSES,PÁSSAROS & GAIOLAS




















"
Eu não tenho religião.

Não vou a igrejas, não participo de rituais, não acredito nos seus dogmas.

Preciso não ter religião para amar a Deus sem medo, com alegria e, principalmente, sem nada pedir.

Não tenho religião porque não concordo com as coisas que elas dizem de Deus.

Deus é um Grande Mistério.

Está além das palavras.

Diante do Grande Mistério a gente emudece.

Fica em silêncio.

Discordo a partir do pronome "ele".

Deus "ele", masculino?

Onde foi que aprenderam sobre o sexo de Deus?

Deus tem sexo?

Se tem sexo, por que não ela, Deus mulher?

Como a mulher do Cântico dos Cânticos?

A Igreja Católica não conhece a mulher.

Conhece apenas a "mãe" que foi mãe sem ter sido mulher.

Deus: por que não uma flor, a mais perfumada?

Por que não um mar sem fim onde a vida navega?

Místicos houve que disseram que Deus é uma criança que nos convida a brincar...

Mas pode ser também que Deus seja música, como pensaram os místicos pitagóricos.

Ter uma religião é falar as palavras sagradas daquela religião e acreditar nelas.

As religiões se distinguem e se separam: pelas diferenças das palavras que usam para se referir ao sagrado.

Se elas nada falassem, se houvesse apenas o silêncio diante do Grande Mistério, a Babel das religiões não existiria.

Diante do Grande Mistério apenas uma palavra é permitida, a palavra poética, porque a poesia não o diz mas apenas aponta para ele.

O grande Mistério está além das palavras.

Se tenho uma religião ela se chama poesia.

Por isso, amo a Cecília Meireles, sacerdotisa profana, que quando queria se referir a Deus falava sobre um mar sem fim, misterioso e selvagem.

Quem em silêncio contempla o mar sem fim ouve vozes em meio ao barulho das ondas.

Também Fernando Pessoa sabia disso.

Mas, prestando bem atenção, é possível ver, a voar sobre o mar sem fim, um pequeno pássaro que canta:

"Leve é o pássaro: e a sua sombra voante, mais leve.

E a cascata aérea de sua garganta: mais leve.

E o que lembra, ouvindo-se deslizar seu canto, mais leve..."

Os poetas escrevem em transe: não sabem sobre que estão escrevendo.

Faz muitos anos, escrevi um livro para minha filha.

Ela tinha 4 anos.

Eu iria fazer uma demorada viagem pelo exterior e ela ficou com medo de que eu morresse e não voltasse.

Apareceu-me, então, uma estória,

A menina e o pássaro encantado.

Resumida, era assim:

era uma vez uma menina que amava um pássaro encantado que sempre a visitava e lhe contava estórias, o pássaro a fazia imensamente feliz.

Mas sempre chegava um momento quando o pássaro dizia:

"Tenho de ir".

A menina chorava porque amava o pássaro e não queria que ele partisse.

"Menina", disse-lhe o pássaro, "aprenda o que vou lhe ensinar: eu só sou encantado por causa da ausência.

É na ausência que a saudade vive.

E a saudade é um perfume que torna encantados a todos os que o sentem.

Quem tem saudades está amando.

Tenho de partir para que a saudade exista e para que eu continue a
amá-la, e você continue a me amar..."

E partia.

A menina, sofrendo a dor da saudade, maquinou um plano: quando o pássaro voltou e lhe contou estórias e foi dormir, ela o prendeu numa gaiola de prata dizendo:

"Agora ele será meu para sempre".

Mas não foi isso que aconteceu.

O pássaro, sem poder voar, perdeu as cores, perdeu o brilho, perdeu a alegria, não mais tinha estórias para contar.

E o amor acabou.

Levou tempo para que a menina percebesse que ela não amava aquele pássaro engaiolado.

O pássaro que ela amava era o pássaro que voava livre e voltava
quando queria.

E ela soltou o pássaro que voou para longe.

A estória termina na ausência do pássaro e a menina se enfeitando para a sua volta.

Minha intenção, ao escrever esta estória, era simples: consolar a minha filha.

Mas quando foi publicada ganhou um sentido que não estava nas minhas intenções: começou a ser usada em terapia, com casais possuídos pela ilusão de que, engaiolado, o amor seria posse eterna...

Desde então passei a presentear noivos com uma gaiola da qual eu arrancava a porta.

Mas, passado algum tempo, uma pessoa me disse:

"Que linda estória você escreveu sobre Deus!"

"Sobre Deus?", eu perguntei sem entender.

"Sim", ela me respondeu.

"O Pássaro Encantado não é Deus?

E as gaiolas não são as religiões nas quais os homens tentam aprisioná-lo?"

Aprendi, então, da minha própria estória, algo que não sabia:

Deus como um Pássaro Encantado que me conta estórias.

Amo o Pássaro.

Odeio as gaiolas.

O Pássaro Encantado: não pousa em galhos para cantar.

Não é possível fotografá-lo.

Canta enquanto voa.

Dele, o que temos é apenas a sua leve sombra voante e a
cascata aérea de sua garganta...

Quando ouço o seu canto, ele já passou.

Só é possível vê-lo em seu vôo, por trás.

Vai-se o Pássaro.

Fica a memória do seu canto.

Um pássaro voando é um pássaro livre.

Não serve para nada.

Impossível manipulá-lo, usá-lo, controlá-lo.

Pássaro inútil.

E esse é, precisamente, o seu segredo: a sua inutilidade: ele está além das maquinações dos homens.

Sua única dádiva é o seu canto.

Só faz um milagre, um único milagre: quando, chorando, lhe peço "Passa de mim esse cálice", ele canta e o seu canto transforma a minha tristeza em beleza.

Por isso eu nada lhe peço.

Sei que ele não atende a pedidos.

O seu canto me basta: ao ouvi-lo transformo-me em pássaro.

E vôo com ele...

Mas aí vêm os homens com as suas arapucas e gaiolas chamadas religiões.

E cada uma delas diz haver conseguido prender o Pássaro Encantado em gaiolas de palavras, de pedra, de ritos e magia.

E cada uma delas afirma que o seu pássaro engaiolado é o único Pássaro Encantado verdadeiro...

Por que prenderam o Pássaro?

Porque o seu canto não lhes bastava.

Não lhes bastava a beleza.

Na verdade, não o amavam.

O que os homens desejam não é a beleza de Deus.

O que eles desejam é manipular o seu poder.

O que eles querem é o milagre.

O canto do pássaro poderia lhes dar asas para voar.

Mas não é isso que querem.

O que desejam é o poder do pássaro para continuar a rastejar: Deus, transformado em ferramenta.

Ferramenta é um objeto que se usa para se atingir um fim desejado.

Assim são os martelos, as tesouras, as panelas...

O que as religiões desejam é transformar Deus em uma ferramenta a mais.

A mais poderosa de todas.

A ferramenta que realiza os desejos.

Como o gênio da garrafa.

Pois não é isso que é o milagre, a realização de um desejo por meio da manipulação do sagrado?

Só é canonizada santa uma pessoa que realizou milagres: o milagre é o atestado do seu poder para manipular o divino.

E é assim que as religiões se multiplicam, porque os desejos dos homens não têm fim, e os seus santuários se enchem de santos de todos os tipos, os santos milagreiros são nossos despachantes espirituais, todos eles a serviço dos nossos desejos, atenderão nossos desejos a preço módico, se rezarmos a reza certa e prometermos publicar o milagre em jornal, e pela televisão se anunciam fórmulas, sessões de descarrego, águas bentas milagrosas, exorcismo de demônios, os DJs de cada religião têm uma música na fala que lhes é própria...

Assim, a poesia do canto do Pássaro Encantado se transforma em manipulação do pássaro engaiolado.

E não percebem que aquele pássaro que têm dentro de suas gaiolas não é o Pássaro Encantado, que não se deixa engaiolar, porque é como o vento, e voa como quer, e tem uma única dádiva a oferecer aos homens: a beleza do seu canto.

À transformação da poesia em manipulação milagreira - os profetas deram o nome de idolatria.


by Rubens Alves




e no entanto é isso moça bonita

Este bendito pássaro encantado
nada mais é que o AMOR,
que não se deixa engaiolar,
porque é como o vento,
e voa como quer,
e tem uma única dádiva a oferecer aos homens:

a beleza do seu canto.





nesta tarde cinza
mas o sol
assim como você
hoje
já veio me dar BOM DIA!

AntonioCarlos

2oo7

:)
junh......Oh!



Caixa de Ferramentas





















"



Dúzias de pregos soltos,
três alfinetes de fralda
pra servir de desmazelo.

Um rolo de fita isolante,
que nem teve serventia.

Seis retratos 3x4,
fora o do relicário de prata,
que não é meu,
com mentira
escrita no verso.
Em prosa.

Desarrumadas lembranças,
uma carta de amor,
três de baralho:
um rei de pau,
uma dama de quatro,
um ás de ouro puro,
erro de cartomante.

Uma chave de fenda,
uma calcinha de renda,
uma clave de lua,
pena de passarinho,
asa de borboleta,
raiozinho de sol.

Minhas caixinhas de música,
conchinhas, tantos mares,
minha coleção de pedras,
meu colar de pérolas
e aquele salto alto,
que nunca foi lá.

Três segredos,
sete chaves
e nenhuma abre a algema.

Uma faca desafiada
por um pulso
sem coragem,
uma tesoura
sem ponta,
aterrorizando
velhos papéis.

Um missal de madrepérola,
um santinho de São Jorge
assassinando o dragão
com um canivete suíço.

Três segredos tão sufocados
no amarrado da fita amarela.

Um soluço,
a última ilusão.

Todas as bugigangas que juntei,
todos os parafusos que perdi
e quase esquecido,
de lado,
escondido entre rimas quebradas...

Um martelo torto
e sem cabo

de tanto bater
na saudade...



........................Silvana Guimarães








É isso dona moça
de repente bateu uma saudade de ti
que coisa engraçada

ah!

as vezes acho
que voce foi encontrada no
fundo da caixa da minha memória

junho veio
e trouxe você
...com 1/2 beijo lambuzado de chocolate!


AntonioCarlos

2oo7

:)
junh......Oh!



sexta-feira, 22 de junho de 2007

Eu o amo porque você sou eu...





















"


Bem,

agora devo conversar

todas as noites.

Comigo.

Com a lua.

Vou caminhar como fiz essa noite,

invejosa de minha solidão,

sob o azul-prateado da fria lua

a brilhar nos flocos da neve recente,

soltando miríades de reflexos.



Falo comigo e olho para as árvores escuras,

abençoadamente neutras.

Muito mais fácil do que encarar pessoas,

do que parecer feliz,

invulnerável, inteligente.



Tiro a máscara,

caminho conversando com a lua,

com a força neutra impessoal

que não ouve,

mas aceita meu ser

e pronto.



Sem me diminuir.



Fui até o rapaz de bronze que amo

porque em parte ninguém se importa com ele,

e tirei um floco de neve de seu rosto

delicado e sorridente.



Ele fica parado ao luar, escuro,

a neve tingindo seus membros de branco

no semicírculo de alfeneiros,

com seu golfinho ondulante,

sempre a sorrir, equilibrado num pé só."

(..)

Eu o amo porque você sou eu...

minha escrita,

meu desenho de muitas vidas.



Serei uma pequena deusa,

à minha moda singela.



Deixei em casa, sobre minha mesa,

o melhor conto que já escrevi.



Como explicar a Bob

que minha felicidade depende

de arrancar um pedaço da minha vida,

um fragmento de aflição e beleza,

e transformá-lo em palavras

datilografadas numa página?



Como ele poderia entender

que justifico minha vida,

minhas emoções ardentes,

meu sentimento,

ao passá-la para o papel?"





Diários de Sylvia Plath







e é isso moça bonita




"Fecho meus olhos

e o mundo cai morto;


Eu levanto minhas palpebras

e tudo nasce novamente;


(Eu acho que criei você na minha mente.)"


AntonioCarlos

2oo7

:)
junh......Oh!



segunda-feira, 18 de junho de 2007

Sai para pescar...II

Clique sobre a foto para ampliar


















...
Sábado...

Fomos pescar aqui pertinho, às margens do Guaíba...
Eu e o Douglas...




















...
Mas o sol era apenas uma ilusão.
Além de um frio de 8 graus
Tinha um vento Minuano
de arrepiar cuzco
risos...
























...
Mesmo assim, eu, como um intrépido pescador,
pesquei o maior peixe destas àguas meridionais...
rsrs
...























...
Tái a prova!


__________________________________

Enquanto o Douglas,
pegou apenas muito frio nas orelhas.
Brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr



















...
Aguarde...

Qualquer dia destes te convido para comer um belo peixe recheado...rsrs






é isso moça bonita
uma semana azul
é o meu desejo
pra ti
+ 1 beijo
_____________

aNTONIocARLos

juhn.................Oh!
2oo7
:)








E sendo assim...

"

Coração acelera,
bate, tropeça,
despenca em você...


Estrela cadente,
navega sorridente
só pra ver...

Gota de chuva
nos ares,
trafega
sôfrega
pra molhar
o coração

Ah!
Moça
quanta saudade
esta noite
reserva
até que toques
este coração!



Agora penso em ti
lembro teus olhos,
espreito este anjo
que levita.
sobre o Guaíba
dos meus sonhos




... Clique sobre a foto para ampliar


















...e coabita,
sufocando gemidos
desarmando espírito
descortinando minha vida
como um raio de luz
que atravessa o tempo
num abraço continente
e se esparrama
por toda esta
minha terra molhada
de amor...

e... continuo
a sonhar contigo
sempre ...


junho
meio
veio
e tá indo


e nós?

sós?


AntonioCarlos

2oo7

:)
junh......Oh!



sexta-feira, 15 de junho de 2007

Frase gigante

... Clique sobre a foto para ampliar


















"
Cada qual à sua maneira,
o passado nos ensinara
a inutilidade profunda de ser sérios,
de apelar para a seriedade
nos momentos de crise,
de segurar-se pelas lapelas
e exigir comportamentos
ou decisões ou renúncias;

nada podia ser mais lógico
do que essa tácita cumplicidade
que nos reunira em torno
de meu paradero
para compreender de outra maneira
a existência e os sentimentos,
andar por rumos que não eram
os aconselháveis em cada circunstância,
deixando-nos levar,
pulando num bonde
como fizera Juan na cidade,
ou ficando numa cama
como eu continuava a fazer com Nicole,
desconfiando sem razão nem muito interesse
que tudo isso tendia
ou distendia à sua maneira
o que no plano da razão sensata
se teria traduzido
em explicações, cartas,
muito telefone
ou talvez tentativas de suicídio
ou viagens repentinas
à ação política
ou às ilhas do pacífico.


by Julio Cortazar - 62 modelo para amar



e é isso Moça Bonita

e a chuva vem molhar
olhos ainda úmidos
de chorar

Onde estás?


Antonio Carlos
2007

..

:)

junh......Oh!



'Corazón Coraza'

... Clique sobre a foto para ampliar



















"

Porque te tengo
y no
porque te pienso
porque la noche
está de ojos abiertos
porque la noche
pasa y digo amor
porque has venido
a recoger tu imagen
y eres mejor
que todas tus imágenes

porque eres linda
desde el pie hasta el alma
porque eres buena
desde el alma a mí
porque te escondes
dulce en el orgullo
pequeña y dulce
corazón coraza

porque eres mía
porque no eres mía

porque te miro
y muero
y peor que muero
si no te miro amor
si no te miro

porque tú siempre
existes dondequiera
pero existes mejor
donde te quiero

porque tu boca es sangre
y tienes frío
tengo que amarte amor
tengo que amarte

aunque esta herida
duela como dos
aunque te busque
y no te encuentre
y aunque
la noche pase
y yo te tenga
y no.


by Mario Benedetti.



e é isso Moça Bonita

nesta sexta feira de chuva
onde me aqueço

no calor
da lembrança
do sorriso teu
e


eu

Antonio Carlos
2007

..

:)

junh......Oh!