quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Covardemente






Aí diz o meu coração, que prazer tem bater, se ela não vai ouvir
Aí minha boca me diz, que prazer tem sorrir, se ela não me sorri também
Quem pode querer ser feliz, se não for por um grande amor
...Eu sei que vocês vão dizer


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COVARDEMENTE


Ela invadiu os sonhos dele
covardemente
noite após noite
sem pedir permissão.

Foi entrando
e ficou por lá mesmo.


Ele relutou,
não quis mais dormir,
guerreou contra ela
com seu exército
de terracota,
atirou nela
com suas poderosas
balas de festim,
jogou bombas de chocolate,
tentou matá-la de amor.


Mas não venceu

e toda noite
ela reaparecia
para levá-lo a passear

por pontes e jardins,
lagos e vitórias régias,
lagunas e ninúfares,
vagalumes e colibris,
sorvetes e farmácias,
vivos e mortos

e outros lugares
que só os sonhos explicam.


Aos poucos
ele foi deixando de lutar
e começou a aceitar.

De aceitar,
começou a desejar.

Já queria dormir
pra não acordar mais,
queria que ela
o levasse pela mão,
para sempre.


Todos os dias
de sua vida
foram assim
e a sua vida era
sonhar com ela.


E era feliz
pois encontrou
a mulher dos seus sonhos
no lugar menos provável:

nos seus próprios sonhos.



E assim eles
envelheceram juntos
até o dia em que
ele realmente
não acordou mais.


Ela o tomou pela mão
para levá-lo
e, por fim,
deixou de aparecer.

E é isso Moça Bonita!

Quem pode querer ser feliz
se não for por amor?



Música : Rosa Passos - Desenho de Giz