segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O menino perdido ( Talvez ainda dentro de mim )




















Lenta infância de onde
como de um pasto comprido
cresce o duro pistilo,
a madeira do homem.

Quem fui?
O que fui?
O que fomos?

Não há resposta.
Passamos.
Não fomos.
Éramos.


Outros pés,
outras mãos,
outros olhos.

Tudo foi mudando
folha por folha,
na árvore.

E em ti?

Mudou a tua pele,
o teu cabelo,
a tua memória.

Aquele que não foste.


Aquele foi um menino
que passou correndo
atrás de um rio,
de uma bicicleta,
e com o movimento
foi-se a tua vida
com aquele minuto.

A falsa identidade
seguiu os teus passos.

Dia a dia as horas
se amarraram,
mas tu já não foste,
veio o outro,
o outro tu,
e o outro até que foste,
até que te arrancaste
do próprio passageiro,
do trem,
dos vagões da vida,
da substituição,
do caminhante...

A máscara do menino
foi mudando,
emagreceu
a sua condição enfermiça,
aquietou-se
o seu volúvel poderio:

O esqueleto
se manteve firme,
a construção do osso
se manteve,

o sorriso,
o passo,
o gesto voador,
o eco
daquele menino nu
que saiu de um relâmpago,
mas foi o crescimento
como um traje!

Era outro o homem
e o levou emprestado.



Assim aconteceu comigo...

De silvestre
cheguei a cidade, a gás,
a rostos cruéis
que mediram a minha luz
e a minha estatura,
cheguei a mulheres
que em mim se procuraram
como se a mim
tivessem perdido,
e assim foi sucedendo
o homem impuro,
filho do filho puro,
até que nada foi
como tinha sido,
e de repente
apareceu no meu rosto
um rosto de estrangeiro
e era também
eu mesmo:

Era eu que crescia,
era tu que crescias,
era tudo,
e mudamos
e nunca mais soubemos quem éramos,
e às vezes recordamos
aquele que viveu em nós
e lhe pedimos algo,

talvez que se recorde de nós,

que saiba pelo menos
que fomos ele,
que falamos
com a sua língua,
mas das horas consumidas...


Aquele
nos olha
e não nos reconhece...

Pablo Neruda



?estranhos?
estamos
estando
nós
tão
pobres estranhos
sós
olhamo-nos e
não nos reconhecemos
em tão pouco tempo
o que era doce se acabou


fica perdido
em meu peito
um beijo
um abraço
um jeito
.....uma saudade
de um menino
de uma menina

1/2 bj

antoniOCarlos