sábado, 14 de julho de 2007

Alecrim




















E Junho passou.

Resta, entretanto,
um cheiro absurdo de alecrim
correndo entre meus dedos.

Meu corpo inteiro,
cúmplice do mesmo anseio,
exala sálvia e alecrim.

Perdura a sensação
desconcertante do banho.

O alívio extremado
e um medo de amar.

Riso pairando
nas folhas e no corpo
da Primavera.

A espuma escorrida
na fresta dos olhos.

Sabonete que virou lágrima
e as vezes um ser mitológico
querendo lamber,
engolir.

Sim, foi ontem
que a encomenda chegou.

Cheirava a alecrim.

Meu cheiro, minha promessa.

Bálsamo.

Meu presente e minha devoção.

Abri a caixa.

O desenho dos sonhos
embolado em papéis de presente.

Sabonetes, risos, cartas de consolação.

Aquela demonstração de afeto
me atingiu por dentro.

No meio da mais desajeitada emoção.

Enquanto despia a embalagem,
com muito jeito
para não constrangê - la,
pensei na remetente,
tão longe, mas
incrivelmente perto...
.
Com tanto carinho
que chegou a doer!

Tentei disfarçar,
mas meu riso
meio choro
não soube me esconder.

Toquei no envelope
como se toca uma face
enamorada.

Dentro,
repousavam meus destinos
mais secretos.

Minhas íntimas letras,
tão idiossincráticas letras,
grafadas nas letras de um anjo.

Afeto,
marcador de livro,
madrugadas compartilhadas,
longas conversas
enluaradas.

Bilhete dos sonhos,
bloco de anotações
e um cd do Simply Red.

Misturado a tudo isso,
sabonetes,
muitos sabonetes.

Sabonete em barra,
sabonete em espuma...

Em sensação.

Castanha-do-Pará, e,
claro,
Sálvia e Alecrim.

Um cd de Ella Fitzgerald
e outras delicadezas
pro meu coração.

Como se não bastasse
a cumplicidade de nossas almas,
já de longe meu maior regalo,
decidiu-me o anjo,
presentear-me com o perfume,
essência das intenções.


E o verde dos olhos
dançava feito criança
ao som de For Your Babies:

I dont believe in many things,
But in you I do.
Believe it or no
Pretty Woman...


O perfume
que me acompanharia
por horas a fio
espalhou-se pela casa,
revelando os desejos mais íntimos
que uma caixa como aquela
pode, em si,
conter.

Meu humor sereno,
percorrido de sonhos matinais,
ainda se espreguiçava de sono
logo que Os Correios
resolveram me surpreender.

Acordei
com o cheiro do alecrim,
e, com ele, fui dormir.

Me banhei,
me barbeei
me vesti
e fui a locadora
acompanhado dele.

Assisti Frida,
e no meio da história,
notei que o travesseiro
que me enroscava nas pernas,
e que me protegia do frio
do quarto solitário
e das não solitárias carências
do meu querer ser,
também cheirava a alecrim.

No corpo inteiro,
a mesma meta
e a mesma chegada.

Um mesmo cheiro.

Morada das recordações.

Dos sonhos
e da necessidade
de amar...

Ah!
Como preciso...

E quando esse sonho nasce
de uma tarde de chuva e muito frio,
como a que se fez apresentar
em Porto Alegre
do meu ontem;

nasce de um riso
embrulhado pra presente,
envolvido das alegrias
que só os gestos mais simples
sabem produzir;
olho de novo
a foto estampada no e-mail.

Sim teu sorriso é bonito;

Quando a meta
de mergulhar no outro
dá sinais evidentes
de sua procriação;
quando o amor
é também amizade,
desejo de estar perto,
sempre junto,
estar sempre mais;
quando, enfim,
em pleno Inverno
fim de tudo quanto é flor,
aqui dentro
tudo parece exalar sálvia
e alecrim,
haverá, decerto,
amor e felicidade eternas...


não é assim?

Anjo Bom...


então é isso moça bonita
um ótimo dia
prá ti...


......aNTONIocARLos

JULHO
2°°7