quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sempre esqueço...


Ouça para embalar o apetite e o coração



Sempre esqueço...


Gosto de bacalhau seco, compacto.


Sempre esqueço que é um peixe
que singrou outrora os mares
até cair nas malhas
e na ganância dos pescadores.


Presente raro dos deuses,
o bacalhau, para mim,
nasceu simplesmente salgado,
sempre em postas e,
neste estado,
graças ao engenho humano,
é levado à mesa
e entregue à sanha
de nossa gula.

Desde menina,
presença constante
em minha casa,
o bacalhau ajustava-se,
como nenhum
outro alimento,
à fantasia familiar.


Talvez porque pudesse
ser preparado de mil maneiras,
embora o feitio mais tradicional
fosse afogá-lo no azeite e no alho.


O bacalhau, aliás,
por prestar-se a tantas receitas,
assemelha-se aos
quatrocentos
queijos franceses,
que motivaram
o presidente De Gaulle
a declarar a ingovernabilidade
de um país
que criou do mesmo produto
tantos sabores.


Os portugueses, por sinal,
donos de estômagos
aguerridos,
e apreciadores
de alimentos contundentes,
também não são
facilmente governáveis.

O que nos parece bem acertado.

O bacalhau, porém,
de que lhes falo,
apresenta-se em casa fagueiro
especialmente na noite de Natal.


Quando nos apraz
que a travessa de bacalhau,
ao aterrisar na mesa ornamentada,
seja aplaudida por todos.


De todas as receitas,
a que mais nos apetece
é o Bacalhau à Caçadora.


Uma sugestão que,
embebida no espírito
da aventura e do azeite,
termina na santa beatitude
e no prazer de viver.


Tal prato, que leva a assinatura
de minha mãe,
merece ser trancado
a sete chaves
na grata gaveta da memória,
e não ser esquecido.


Quando me pedem esta receita,
recuo atemorizada.

E não movida pelo mesquinho impulso
de negar aos demais esta maravilha.

Emudeço pelo temor de falhar,
de não fazer jus à perfeição
que sua autora,
levada pelo amor
aos convidados
que lhe batem à porta,
empresta à receita.

Contudo,
sob o estímulo dos amigos,
sugiro que usem
uma posta elevada,
de fibra suave,
e que a dessalguem
com cautela
ao renovar-lhe a água.

Logo podem desfazer as postas
sem pulverizá-las.

Em seguida, as batatas,
de igual tamanho,
são fatiadas em sentido longitudinal.


E para logo atender
aos reclamos
do coração,
ansioso
por tal iguaria,
empilhem
no fundo da panela
sucessivas camadas
de bacalhau,
de batata,
de pimentão vermelho
picado,
e nunca de outra cor,
enquanto as passas
de Corinto
são repartidas
pela panela.


Quase a terminar,
borrifar ligeiramente
os ingredientes
acomodados
com a água
e a páprica doce
misturados.

Quanto ao azeite,
há que exagerar
cobrindo
todas as camadas
com ele.

Recomenda-se fogo brando
para não apressar
o que merece lenta cocção.


E quando esteja
enfim pronto,
melhor servi-lo
com brócolis cozidos,
passados no azeite
e no alho socado.

O único trabalho depois
é saboreá-lo com os olhos
ligeiramente cerrados
e as pupilas dilatadas,
atentas,
apaixonadas".




Nélida Piñon, - Jornal O Dia, de 26/09/96.



Ó musa do meu fado
esta terra ainda
vai cumprir seu ideal
ainda vai tornar -se
um imenso Portugal


Então moça bonita
caso queira uma dica
para comprar aquele bacalhau
que tem mais de tres dedos de grossura
e com preço grosso igual
vai lá no Mercado Municipal
de São Paulo na "Cantareira"
http://www.emporiopetali.com.br/loja/sessoes.asp?item=6&Categoria=

E aproveita e já manda ver num big pastel de Bacalhau lá do Bar do Mané




Babe porque é de comer de joelhos!
rsrs


É isso
nesta manhã de primavera
que se apresenta com um frio de 14 graus
além da bruma
além da chuva
além do vento
além da lenda
além da fome
de VOCÊ


tenha um bom dia
nesta quarta
neste vigésimo terceiro
neste setembro

1/2 beijo sabor salvia e alecrim

AntonioCarlos
2oo9




a música que ouves: Fado Tropical - Chico Buarque