IRRUPÇÕES

IRRUPÇÕES CONCEPTUAIS























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O ÚLTIMO

ELA :

Há dias em que
te sigo, vejo como
percorres
as ruas e os lugares
onde se detém a tua mente.

Há vezes em que
detenho a tua mão
e te semeio o caminho de sinais.

Há tardes em que
entro na tua mente
e converso contigo
no meio dos recifes.

Há noites em que
te acompanho no perigo,
e te detenho nos umbrais.

Assim cuido de ti,
sem curar as tuas dores,
nem as angústias da tua estância.

Há dias em que
vejo como ficas enevoado
e não vês os sinais do caminho.

Há vezes em que
semeio de dúvidas as tuas idéias
para que não realizes nenhuma.

Mas há vezes em que
és mais forte nos teus desejos
e não posso impedir
o que te acontece.


TU :

Feche as portas,
deixe as luzes de emergência,
acabou a exposição,
os meus pés estão congelados
e as minhas mãos ardem,
que a minha família não saiba,
não poderia sentir
as lágrimas da minha mãe
no meu ombro,

não quero ouvir
a voz tremente do meu irmão,
nem a carícia compassiva
de um cunhado,
não quero ver
como batem os dentes,
nem escutar as frases nervosas
das gargantas.

Que não o saibam os meus amigos,
que não tragam
os seus sorrisos para ajudar-me,
nem as suas pupilas
dilatadas de ânimo.

Enfermeira
que não o saiba a terra.

Só você e eu.

Diga-lhes que sim,
que os ouvi chamarem-me,
que sim,
ouvi o telefone tocar...

Diga-lhes que sou eu
o que navega no oceano,
que caí nas águas,

diga-lhes que amanhã
o meu nick não estará na Internet,
diga-lhes que era eu
no vídeo do deserto
e que não estava morto,

diga-lhes que assim acontece
e assim deixa de acontecer.

E que os meus desejos
são só fragmentos…

ELA :

Não se preocupe
eu alimentarei as aranhas...


FINAL / ISLA NEGRA 2003

TEUS DESEJOS EM FRAGMENTOS ~ IRRUPÇÕES CONCEPTUAIS

Poéticas de textos para uma Poética do espaço

by RAMON GRIFFERO


e foi isso
moça bonita
aranhas,
vaga-lumes
orfãos...



antoniocarlos
2oo7
:)
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