sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Os pensamentos são nuvens mágicas...



E a música voa como uma gaivota por sobre as ondas do pensamento:



Os pensamentos são nuvens mágicas...


Ele se senta para escrever,
esvaziar a alma,
soltar as amarras
e as amarguras...

Pensa em muitas coisas...
As causas do pânico...

A Morte...
Senhora absoluta
que passeia em sua vida,
rondando,
todo tempo à espreita...

A Vida...
Estrada muitas vezes
sem sentido,
caminho sem direção,
atalhos que não levam
a nenhum lugar...

Acha complicado viver...

Sente seu peito
carregado de dor,
meio que suspenso
no passado,
envolto em névoas,
no submundo do destino...

Pensa num poço...

Alguém lhe disse
que os poços
são encantados
e que suas águas,
lá no fundo,
são azuis
embora pareçam negras...

É a magia da luz...

Vasculha os jardins...

Sempre gostou deles.

Houve um tempo
em que pensou
em ser jardineiro,
cultivador da terra,
teve muitas flores
e orquídeas.

As flores são a expressão
mais pura da delicadeza...

Lembra de uma rosa
cor de pêssego
olhando-o...

Ama as matas:
verdes, densas, escuras...

Revelam segredos,
guardam a sensualidade,
escondem mistérios...

Gosta das tempestades,
ventos enfurecidos
arrastando a calma
lavando a alma...

Pensa nas despedidas:

Alguém que ama
acabou de partir
e ele ainda não aprendeu
a conviver com as perdas.

Ela arruma as malas,
faz planos, sorri feliz
da novidade que a espera...

E sua melancolia aumenta...

Ele tenta segurar o tempo,
parar o ritmo das horas,
conter os minutos...

Inútil:
Essa sucessão de momentos
não pode, nunca,
ser estancada.

Agora pensa em escrever
sobre o Amor,
mas nada lhe vem à mente,
exceto a sensação
de que seu amor se perde
numa viagem qualquer
pelo universo,
em busca de horizontes
nos quais ele
não faz parte do cenário.

Ele é um homem
não muito bonito,
mas no entanto simpático
e a alegria
assim como a tristeza
e os desencontros,
já lhe povoaram os dias.

Mas até agora estava apaixonado
por uma mulher
que era metade Bruxa
e metade Fada;
metade Vida
e metade Morte;
metade Sedução
e metade Pureza;
metade Humana
e metade Anjo;
metade Coragem
e metade Pânico
metade Perto
e metade muito Longe.

Uma mulher
que se dividiu em muitas
e cavalga o mundo
sem criar vínculos,
sem fixar espaços,
nem alimentar esperanças...

Talvez porque estivesse
muito machucada
por um dia ter feito isso.

Que avisa logo que chega
que está de partida
para que não se crie ilusões
à respeito dela.

Contudo, o coração
é um caçador sem limites
e pensa que pode
quebrar todas as barreiras
quando envolvido
por sentimentos nobres.

Entende que a grandeza
da verdade do amor
pode superar a dor
e continuar acalentando
o sonho,
muito embora ele
se mostre desprovido
de se tornar real.

Ele se deixou cativar...
Ela se deixou levar...

Aquela mulher
sem intenção o seduziu,
o fez cativo dela,
o tomou inteiro para si
sem desejar.

Gostou da descoberta.

Muito embora agora
se sentisse imerso
num mar de tristeza
e, em breve, de solidão,
ainda acredita
que essa foi
a maior descoberta que fez
para si mesmo:

Um diamante raro,
um autêntico Cape azul,
polido, feito cristal.
Ou um punhado
de pedrinhas coloridas
em formato de coração
que um dia colocou
em suas mãos.

Que importava que partisse
se ficaria guardada consigo
até o fim de seus dias?

Por que se preocupava
com o fato de que
nunca mais
lhe visse os olhos azuis-esmeralda
se poderia contemplá-los
em todos os mares?

Que diferença
se os ventos levassem
para longe seus cabelos dourados
se em qualquer trigal
estariam presentes?

Seu desespero
começava a amenizar-se:
sua voz interior lhe conta
que aquela mulher
sera sua prisioneira sem o saber.

Ela podia pensar que partia,
mas enganava-se
porque ficava.

Estava cravada em sua pele,
em suas entranhas
e era sua
mesmo que se perdesse
nas distâncias.

Sorriu...

Surpreendeu-se
ao sentir-se mais leve...

Os pensamentos
são nuvens mágicas
de conclusões dispersas...


Assim
como você
que mesmo
na distância
continua
sendo
etérea
macia
e lenda...

Porque eu não preciso
de autorização
prá te amar
nem prá te levar
no coração
prá onde quer
que eu vá...


e sendo
assim
se não sabes onde nos perdemos
foi isso!


neste
décimo sexto dia
de outubro
2oo9


antoniOcarlos
música: Mary MacGregor - Torn Between Two Lovers

Um comentário:

Anônimo disse...

"Ele se deixou cativar...
Ela se deixou levar..."

Que texto bonito querido!! Fez-me lembrar um poema do Fernando Pessoa(vou mandar por e-mail).
Como sempre, você segue me inspirando e me contagiando, e com certeza,a todos que por aqui passam.
Obrigada por isso.

e é assim...sempre.
beijos mil
Sandra