terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Dançaram Beberam Riram


Se há alguma coisa importante neste mundo, dizia o marido, peremptório, é uma empregada de confiança.
Com o que a mulher concordava.
Satisfeita, aliás: a empregada, cuidadosamente selecionada por ela, era extremamente confiável.
Tomava conta da casa, fazia compras, e até retirava dinheiro do banco para os patrões.
Tudo dentro dos mais absolutos padrões de honestidade.
Confiavam tanto nela que não hesitavam em deixar-lhe o apartamento, quando viajavam.
Uma vez resolveram passar o fim de semana na praia.
Avisaram a empregada que, como de costume, concordou - nunca saía, aquela confiável doméstica.
Tomaram o carro e foram.
No meio do caminho, deram -se conta: haviam esquecido as chaves da casa da praia.
Muito aborrecidos, discutindo o tempo todo, deram volta.
Com o trânsito congestionado, acabaram chegando à cidade noite fechada.
Ao sair do elevador, deram-se conta de que algo estranho estava acontecendo: sons vinham lá de dentro, um rock tocado a todo o volume.
O que podia ser aquilo, se a empregada, discreta como ela só, jamais ouvia música?
- Acho bom chamarmos a polícia- disse a mulher, mas o marido, mais corajoso, e intrigado com aquilo, já estava abrindo a porta.
O que viram quase os fez desmaiar.
O apartamento estava cheio de gente.
Umas cinqüenta pessoas, pelo menos, homens e mulheres.
Gente de aparencia humilde.
Mas dançando animadamente, vários com cálices de champanhe na mão.
Os cálices deles, o champanhe deles.
Quando conseguiram se recuperar da estupefação, entraram no apartamento. Aparentemente sem ser reconhecidos, perguntavam pela empregada.
Por fim localizaram-na no local onde habitualmente estava- na cozinha -, porém elegantemente vestida, com um tailleur da patroa.
Que, quase fora de si, bradou:
- Mas você enlouqueceu, Elcina? O que é isto? Que confusão é esta na minha casa?
- Calma, dona – disse um simpático mulato que ali estava.
- Não é confusão nenhuma. É uma festa. Nós sabemos que a casa é sua, mas pode ficar tranqüila, não vamos levar nada. Vamos deixar tudo direitinho. Como sempre.
Como sempre que vocês viajam-disse o rapaz, com uma careta tão cômica, que eles tiveram de sorrir.
E, sorrindo, a coisa já mudava.
No instante seguinte estavam confraternizando com os demais convidados. Quando insistiram para que eles dançassem também, hesitaram, mas depois- que diabos, na vida a gente precisa experimentar de tudo- acabaram aderindo a festa.
Dançaram, beberam, riram.
Ao final da noite tinham de admitir: jamais se haviam divertido tanto.
No dia seguinte, despediram a empregada.
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Para você : um conto de Moacyr Scliar

AntonioCarlos
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10embro
ore por mim
e torça por nós
com um abraço sem-fim!











aNTONIocARLos
2008
:)
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