segunda-feira, 4 de junho de 2007

Mulher Madura




















enquanto isso escute : http://www.paixaoeromance.com/90decada/espanhola/h_espanhola.htm

...

O rosto da mulher madura
entrou na moldura dos meus olhos.

De repente,
a surpreendo num banco
olhando de soslaio,
aguardando a sua vez no balcão.

Outras vezes
ela passa por mim na rua
entre os camelôs.

Vezes outras a antevejo
no espelho de uma joalheria.

A mulher madura,
com seu rosto denso e esculpido
como o de uma atriz,
tem qualquer coisa de
Melina Mercouri
ou de Annouke Aimé...

Há uma serenidade em seus gestos,
longe dos desperdícios da adolescência,
quando se esbanjam pernas,
braços
e bocas ruidosas.

A adolescente não sabe ainda
os limites do seu corpo
e vai florescendo estabanada.

É como um nadador principiante,
faz muitos barulhos,
joga muita água para os lados.

Enfim, desborda.

A mulher madura
nada no tempo
e flui com a serenidade
de um peixe.

O silêncio em torno de seus gestos
tem algo de repouso
da garça sobre o lago.

Seu olhar sobre os objetos
não é de gula
ou concupiscência.

Seus olhos
não violam as coisas,
mas as envolvem ternamente.

Sabem a distância
entre seu corpo e o mundo.

A mulher madura é assim:
tem algo de orquídea
que brota exclusiva
de um tronco,
inteira.

Não é um canteiro
de margaridas jovens
tagarelando nas manhãs.

A adolescente,
com o brilho dos seus cabelos,
com essa irradiação
que vem dos dentes e dos olhos,
nos extasia.

Mas a mulher madura
tem um som de adágio
em suas formas.

E até no gozo
ela soa
com a profundidade de um violoncelo
e a sutileza de um oboé
sobre a campina do leito.

A boca da mulher madura
tem uma indizível sabedoria.

Ela chorou na madrugada
e abriu-se em opaco espanto.

Ela conheceu a traição
e ela mesmo saiu sózinha
para se deixar invadir
pela dimensão de outros corpos.

Por isso
suas mãos são líricas no drama
e repõem no seu corpo
um aprendizado
da macia paina
de setembro e abril.

O corpo da mulher madura
já tem história,
inscrições se fizeram
em sua superfície.

Seu corpo não é
como o da adolescência,
uma pura e agreste possibilidade.

Ela conhece seus mecanismos,
apalpa suas mensagens,
decodifica as ameaças
numa intimidade respeitosa.

Na verdade,
talvez a mulher madura
não se saiba assim inteira
ante seu olho interior.

Talvez a sua aura
se inscreva melhor
no olho exterior,
que a maturidade é também algo
que o outro nos confere,
complemente.

Maturidade é essa coisa dupla:
um jogo de espelhos revelados.

Cada idade tem seu esplendor.

É um equívoco pensá-lo apenas
como um relâmpago de juventude,
de um brilho de raquetes e pernas
sobre as praias do tempo.

Cada idade tem seu brilho
e é preciso que cada um
descubra o fulgor
do seu próprio corpo.

A mulher madura
está pronta
para algo definitivo.

Merece, por exemplo,
sentar-se naquela praça de Siena,
à tarde,
acompanhando
com o complacente olhar
o vôo das andorinhas
e as crianças a brincar.

A mulher madura
tem esse ar de que , enfim,
está pronta para ir à Grécia.

Descolou-se da superfície das coisas.

Merece profundidade.

A mulher madura
é um ser luminoso e repousante
às 4h da tarde,
quando as sereias se banham
e saem discretamente perfumadas
com seus filhos
pelos parques do dia.

Pena que seu marido não note,
perdido que está nos escritórios
e mesquinhas ações
nos múltiplos mercados de gestos.

Ele não sabe,
mas deveria voltar para casa
tão maduro quanto
Yves Montand
e Paul Newman
quando nos seus filmes...

Sobretudo,
o primeiro namorado
ou o primeiro marido
não sabem o que perderam
em não esperá-la maturar...

Alí está uma mulher madura,
mais que nunca
pronta para quem
a souber amar...


Mulher!!!!!!!!!


by Affonso Romano de Sant’Ana


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jájunho!!!!



então moça bonita
é isso
não é?

Quero você
fruta madura
da boca de romãs
e olhos de hortelã
suculenta
colhida e devorada
com calma
e coração
olhos
e paixão...


aNTONIocARLos
2007
:)
___faça o seu comentário aqui em baixo----V

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