sexta-feira, 23 de outubro de 2009

TRÊS MARIAS...








TRÊS MARIAS...



O velho Cessna cortava os céus.

Embaixo, o rio seco
estava salpicado de ilhotas.


De repente a pressão do óleo
começou a baixar
e o piloto resolveu pousar
no primeiro lugar que aparecesse.

E este lugar surgiu
sob a forma de uma ilha
de tamanho considerável, que,
imponentemente e
sobrepujando todas as outras,
era o lugar ideal para um pouso.

As rodas do Cessna
tocaram suavemente o solo arenoso,
num pouso perfeito.


A pane foi sanada
com a colocação do óleo que,
previdentemente, existia no avião
para situações de tal natureza.

Antes de reiniciar a viagem,
o piloto examinou aquele lugar.

A ilha, como as demais que a cercavam,
só aparecia na época da seca e,
em situação normal,
era parte do leito do Araguaia.

Lugar belíssimo
de uma areia alva e fina,
cercado por águas barrentas
e coberto com pedrinhas multicores.

O piloto decolou,
levando consigo dez pedrinhas,
escolhidas a dedo,
que teriam finalidade dupla:
seriam recordação
daquele lugar fabuloso
e excelente presente para sua filhinha.

Assim, a ilha ficou para trás;
agora só uma coisa realmente interessava,
a pressão do óleo,
que deveria permanecer normal
até a próxima etapa da rota.

O tempo passou e um tenente
continuava vivendo a sua vida
e uma garota loura
juntara à sua coleção de bonecas
um punhado de pedrinhas.

A ilha fora esquecida
até que certo dia,
um joalheiro famoso, ao visitar o oficial,
teve a sua atenção despertada para as pedrinhas,
que no momento serviam de peças
num jogo de três-marias

.- Tenente, onde o senhor encontrou estes cascalhos?

Essa pergunta
saiu dos lábios do visitante
numa forma de súplica
e intensa curiosidade.

O tenente explicou então
a sua rápida permanência na ilha:

- Pois saiba, concluiu o joalheiro,
que essas pedras são pedras preciosas!

E, separando uma menor,
preta, brilhante e luzidia, disse:

- Isto é satélite de diamante;
sua filha brinca de três-marias
com uma autêntica fortuna.

Não é preciso dizer
o que se passou com aquele oficial,
nem afirmar que, a partir de então,
ele foi o mais constante piloto daquela rota.

O destino colocou-lhe nas mãos
uma fortuna imensa;
durante uma fração de tempo
ele teve aos seus pés
milhares e milhares de pedras preciosas
e foi um autêntico Ali Babá
na caverna dos quarenta ladrões.

Talvez tenha sido o homem
mais rico da terra
naquele quarto de hora
em que permaneceu na ilha!

Mas o seu garimpo,
aquele tesouro imenso, e a sua ilha
existiam agora apenas na imaginação.

O Araguaia sepultara para sempre aquele lugar
e nunca mais foi possível localizá-lo.

Todos nós, como aquele piloto,
encontraremos,
se já não encontramos,
uma ilha no vôo de nossas vidas.

Ela conterá também
um rico garimpo,
o garimpo do amor,
e talvez seja mais preciosa
do que a ilha encontrada
no Araguaia
e muitas vezes,
como aquele piloto,
pousaremos despreocupados,
conheceremos a ilha,
que poderá ter
o nome doce de alguém,
poderá denominar-se
juventude,
ou talvez seja mesmo
uma ilha perdida
nas praias do nordeste.

Mas, se a ilusão e a ânsia
por sensações novas
nos fizerem decolar,
sem ao menos procurarmos
guardar o local onde estivemos
ou deixar nele uma placa com os dizeres:

"Esta ilha é minha"!!!!

E assim, levaremos
somente algumas pedras preciosas,
sob a forma de recordações
de um beijo,
de um carinho,
de um mar verde
e do vento,
apagando na areia
os nomes escritos num coração.

E quando um joalheiro
famoso, conhecido
como o Senhor-Tempo,
nos disser que perdemos um garimpo,
voltaremos atrás,
como aquele oficial,
mas será tarde,
porque,
como o Araguaia,
o passado terá sepultado a nossa ilha
nas noites do Tempo.


Ficarão apenas,
como lembranças,
algumas pedras chamadas:

SAUDADE
de um nome,
de um carinho,
de olhos brilhantes,
de um dia
de uma voz no telefone
de um e-mail
de uma noite
de uma lua cheia...



é isso...
moça
por isso
a certeza...

pois
conheço muito
de pedras
daquelas com
as quais
trabalhei
e de todas
as outras
que encontrei
pelos caminhos

conheço pedras valiosas
como você,
pelo BRILHO!


...

em outubro

2oo9



antoniocarlos


música : Era - Flowers Of The Sea

Um comentário:

Maria disse...

AMIGO!!
Muito LINDO!
Lembrei da pedrinha
que encontrei
quando tinha sete anos
sob o sol de meio dia
numa rua cheia de
cascalhos de cristal
lá em Montes Claros
peguei a pedrinha
qual muito chamou
minha atenção
ela toda polida
eu...
estava de mãos dadas
com minha mãe.
Mostrei para ela.
Ela não se importou
por um bom tempo
brincava sozinha
com minha pedrinha
até que um dia minha mãe
percebeu que se tratava de
uma pedra especial
procurou um jolheiro e ele
disse que se tratava
de um lindo Topasio.
Até se ofereceu em comprar
a pedra mãe não vendou
mas minha irmã sumiu
com minha pedra
:(