quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Espumas ao vento







Se conheceram
numa daquelas tantas champanharias
que inauguraram naquele inverno
por toda a cidade...
Sem querer ( ficou sabendo depois)
ele chamou a atenção dela pelas gargalhadas
que dava na roda de amigos
ao lado da mesa onde ela estava.
Chegando a hora da conta,
os dois foram ao balcão para passar o cartão
e foi somente ai, que ela o abordou
elogiando o jeito alegre dele.

Trocaram telefones

No outro dia ela ligou,
e depois de muita conversa,
marcaram de se encontrar...

E foi assim que tudo começou.

O estranhamento inicial dele
(que sempre acontece)
acabou muito rápido
ao perceber o quanto ela
era interessante e bordada de atributos.

Inteligente, Médica, Atleta, Corpo Malhado,
Poliglota (tinha feito mestrado e doutorado na Europa)
Livre, Solteira e morando sozinha
sem ao menos um cachorro,
tartaruga ou papagaio para atrapalhar.
Ele não escondia o quanto em pouco tempo passou a admirá-la.
Ficava horas e horas babando ouvindo as estórias dela.
Ela entretanto, não escondia que
apesar das afinidades, sempre encontrava algo
para firmar seu ponto de vista
de que os dois eram muito diferentes.
Mas ele não ligava e insistia.
Mas a firme convicção dele começou a ser abalada
depois que um dia passeando por um parque,
ela comentou que ele era um homem de sorte
por estar com uma mulher independente financeiramente,
dona de carro importado
com uma bela cobertura num bairro elegante da cidade .
Ele fez que não ouviu,

mesmo porque o que ele buscava naquela relação
eram coisas imateriais,
coisas que não tinham preço, mas extremo valor...
E como sempre insistiu,
acreditava mais uma vez, que se pulasse de cabeça
e desse tudo de si, aquela relação teria tudo para vingar e perenizar.

Dizia sempre a ela uma frase que tinha lido a algum tempo e que achava bem a calhar pelo momento que passava:
"Idiota daquele que numa relação, não acredite que esta será eterna, porque se não acreditar realmente não será."
Das afinidades, a que logo cativou ele, foi o fato dela também adorar cozinhar.
Passaram a se dedicar juntos a elaboração de pratos deliciosos, todas as noites.
Durante o dia se ligavam para programar o que fariam para o jantar da noite.
Ela ensinou tudo de vinhos para ele.
Ele ensinou tudo de temperos para ela.
Em pouco tempo,
ela que sempre tinha sido um tanto fechada,
começou a receber diversos amigos
para os jantares maravilhosos que faziam
E as coisas iam assim
Por volta do segundo mes em que estavam juntos,
ela confessou a ele ao acordar
que eles se davam muito bem na cama,
e que só faltava se darem bem no restante.
Ele foi obrigado a concordar,
uma vez que os desentendimentos
eram cada vez mais frequentes.
Não por ele, que sempre chegava a noite na casa dela
com a melhor cara do mundo.
Mas por ela, que vez ou outra esquecia
que não estava num hospital ou numa sala de cirurgia
e já não era mais um DEUS,
e o tratava com uma superioridade
que chegava a beira da grosseria e rispidez,
sempre por motivos banais.
Nas várias vezes em que aconteceu,
ele não teve alternativa que não fosse a de virar as costas e ir embora.
A muito tempo adotara o silencio e a retirada
como a melhor coisa a fazer em
momentos que estava de cabeça quente.
E nada o deixava mais sensibilizado
que ser vitima de agressões gratuitas.
Dizia para si mesmo : Eu não mereço isso!
E sempre no meio do caminho de volta pra casa,
depois das agressões
ela ligava e pedia desculpas,
chorando para ele perdoar e voltar.
Nas primeiras vezes ele fez meia volta e voltou,
nas vezes seguintes ele dizia
que estava de cabeça quente, que perdoava,
mas que eles se veriam somente na noite seguinte.
E foi assim
De tantas e tantas vezes que estes atritos aconteceram,
chegou um momento em que ele começou a dar razão
para quando ela dizia que eles eram muito diferentes...
Nos desntendimentos posteriores, ele não somente voltava para casa,
como deixou de atender as muitas ligações dela tentando pedir perdão..
Só que com o tempo, ele deixou de voltar no dia seguinte..
e começou a dar um intervalo maior para reve-la,
talvez tentando fazer com que ela refletisse melhor
e de alguma forma modificcasse a maneira como o tratava...
Mas ele sempre voltava.
Mas cada dia voltava menos...
Até que um dia, após uma viagem dela
para um congresso de uma semana em Fortaleza,
ele foi buscá-la no aeroporto
e depois de chegarem na casa dela
e ter ouvido ela contar maravilhada
tudo o que tinha acontecido na viagem ,
ele se levantou do sofá e disse que estava indo embora
Ela não entendeu e perguntou
se eles não iriam dormir juntos naquela noite.
Então ele olhou bem nos olhos azuis dela e disse;
-Voce não entendeu , eu vou embora da tua vida,
não volto mais...
Estes dias sozinho foram o suficientes
para que eu chegasse a conclusão que sou
mais feliz longe que perto de ti.
Ela então, enraivecida e tomando ares divinos falou :
- Voce não sabe o que esta perdendo!!!
Ele pensou :
- E voce não sabe o que esta deixando de ganhar
E foi embora
No outro dia a noite passou pelo apartamento dela
e pegou todas as coisas dele que estavam na portaria.
Era o mes de Março.
E ele foi ser feliz, ainda que sozinho.
Mas uma bela noite, no mes de Novembro,
eis que de repente ela entra pela porta do escritorio dele
(ela que jamais tinha se interessado em saber
naquele ano e meio de relação,
onde ele morava e muito menos onde trabalhava)
Entregou a ele um buque de rosas,
chegou ao lado da mesa onde ele estava,
se ajoelhou no chão e pegando em suas mãos,
chorando, pediu perdão, disse que ele era o homem
mais maravilhoso que ela tinha tido na vida,
que tinha feito muitas sessões de análise
e naquele momento tinha se transformado
em uma mulher muito diferente, muito melhor.
Disse que havia conseguido enxergar
todos os erros e desatinos que tinha cometido com ele.
Que tinha entendido que não era ele
que era uma pessoa muito sensível,
como ela constantemente dizia, ao contrário,
ela que não tinha tido sensibilidade alguma.
E sendo assim chorando pediu a ele
que desse a ela mais uma chance de tentar faze-lo feliz.
...
Ele depois de tudo o que tinha ouvido dela,
ainda constrangido,
disse que o homem que ela tinha conhecido
e se apaixonado tardiamente,
não morava mais ali e não existia mais.
Que entendia que se ela tinha mesmo
se transformado em uma pessoa melhor,
que estaria torcendo para que no proximo relacionamento,
ela realmente tivesse a competencia para fazer um homem feliz.
Mas que ele não poderia mais ser aquele homem.
Se levantou da cadeira e a ajudou a se erguer do chão
e se encaminhou para a porta,
deixando claro que era hora dela ir embora.
Ela saiu da sala chorando e chorando se foi.
Na cabeça dele apenas uma nuvem de melancolia e de raiva
por mais uma vez estar acontecendo com ele o mesmo filme.
De relações onde ele acreditou mas o outro duvidou.
E quando ele decidiu deixar de acreditar e foi embora,
as fichas começaram a cair junto com o sentimento de perda...

E foi assim
que ouvindo esta musica recordei desta estória...
E me pergunto:
De que adianta uma porta aberta,
se a gente não tem motivos pra sonhar,
se a alma esta deserta
e a gente não tem mais vontade de entrar

Sabes?

Eu também não!
Então te desejo um lindo dia!

aNTONIocARLos
Outubro
do ano da graça de 2009


música : Espumas ao vento - do filme Lisbela e o prisioneiro

Um comentário:

Unknown disse...

Bom dia amigo!
Salvador esta assim
LINDA!