quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O menino



Melhor ler o texto abaixo ouvindo a música de Ernesto Cortazar
( My Piano Cries for You )

Tks



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O MENINO


Os lábios se abriam num sorriso largo,
ao mesmo tempo em que os olhos
escorregavam para os lados,
arregalados, penetrantes,
iluminando o semblante
daquele menino, criança ainda.


Era assim que ele me recebia
sempre que ia visitá-lo.

Essas visitas se tornaram freqüentes
desde que o menino nasceu.

Apegara-me a ele de tal maneira, e ele a mim,
que a madrinha da criança, sua tia materna,
chegava a ficar enciumada,
apesar da amizade de longos anos.

Os pais do menino não davam importância
aos ciúmes da madrinha
e encorajavam
minhas idas a sua casa,
pois não havia nada que deixasse
a criança mais feliz do que minha presença.

Onde quer que estivesse,
ao pressentir meus passos,
ao ouvir ao longe minha voz,
o menino largava seus brinquedos e
vinha correndo ao meu encontro,
os bracinhos abertos para me abraçar,
e se lançava, se jogava em mim,
me cobria de beijos,
se agarrava no meu pescoço,
e não me largava mais.

"Tia Deci, Tia Deci", gritava de felicidade,
com sua vozinha melodiosa.

Ele era uma criança linda.


Os cabelos,
de um castanho muito claro e ondeados,
emolduravam seu rosto, alvo e suave
como a seda mais pura.

Os olhos amendoados
davam-lhe uma expressão serena,
às vezes até contemplativa,
já prenunciando a timidez e o retraimento
que o acompanhariam na adolescência.

O narizinho bem feito, levemente arrebitado,
alargava-se quando sorria,
encontrando-se com as bochechas,
que se coloriam de um rosa púrpuro
quando sentia alegria.

Os lábios, bem torneados,
eram de um vermelho carmim
que realçava seu rosto,
formando um contraste maravilhoso
com a brandura que nele se estampava.

Era impossível não gostar daquele menino.

Ele tinha um brilho mágico, carismático,
que a todos encantava.

Eu o amava do fundo do meu coração.

Tinha, e ainda tenho,
verdadeira paixão por ele.

Para minha tristeza,
não o vejo mais com a mesma freqüência
daqueles tempos.

Tempos felizes, alegres,
em que essa criança me deixava
completamente, intensamente,
absolutamente em êxtase de contentamento.

Nada havia de mais importante para mim
que as horas que passava em sua companhia.

Eu me transformava em sua presença.

Voltava a ser criança novamente.

Brincava com ele suas brincadeiras de criança,
jogava seus jogos,
fazia tudo o que ele queria,
rolava no chão com ele,
pegava-o no colo,
abraçava-o,
beijava-o, riamos juntos,
dávamos gargalhadas,
chorava com ele
quando a mãe o repreendia.

E assim foram passando os dias,
até que ele cresceu e nossas vidas
tomaram rumos diferentes.

Nossos encontros foram se espaçando
até se tornarem raros.

Vez em quando nos falamos por telefone,
sempre em seu aniversário,
mas não nos vemos mais
como antigamente.

Dele guardo ternas lembranças
e toda noite, antes de dormir,
contemplo seu rosto
no retrato que enfeita minha cômoda,
e, em pensamento,
envio-lhe mil beijos de amor,
esperando que o amanhã
possa me fazer uma surpresa,
trazendo o menino de volta
para brincar mais uma vez
com a criança
que ainda existe
em mim.



LONISE GERSTNER


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e é isso moça bonita
nesta quinta-feira de céu cinza e chuva

beijos sabor aniz

aNTONIocARLos
2°°9

Um comentário:

Unknown disse...

Olá Amigo!
Que surpresa receber um e-mail seu depois de tanto tempo!
Muitas saudades de vc!
Continua escrevendo como ninguém, sua sensibilidade é incrível!
Beijos da amiga que nunca o esqueceu!