quarta-feira, 4 de março de 2009

PRELÚDIOS INTENSOS



- Certas Coisas -





PRELÚDIOS - INTENSOS PARA OS DESMEMORIADOS DO AMOR.



Toma-me.

A tua boca de linho

sobre a minha boca

Austera.

Toma-me

AGORA, ANTES


Antes que a carnadura

se desfaça em sangue,

antes

Da morte, amor,

da minha morte,

toma-me

Crava a tua mão,

respira meu sopro,

deglute

Em cadência

minha escura agonia.



Tempo do corpo

este tempo,

da fome

Do de dentro.


Corpo se conhecendo,

lento,

Um sol de diamante

alimentando o ventre,

O leite da tua carne,

a minha Fugidia.


E sobre nós

este tempo futuro urdindo

Urdindo a grande teia.

Sobre nós a vida


A vida se derramando.

Cíclica.

Escorrendo.


Te descobres vivo

sob um jogo novo.

Te ordenas.


E eu deliquescida:

amor, amor,

Antes do muro,

antes da terra, devo


Devo gritar

a minha palavra,

uma encantada

Ilharga

Na cálida textura

de um rochedo.


Devo gritar

Digo para mim mesma.

Mas ao teu lado me estendo

Imensa.

De púrpura.

De prata.

De delicadeza.

..........................................................................................................II
Tateio.

A fronte.

O braço.

O ombro.

O fundo sortilégio da omoplata.

Matéria-menina a tua fronte

e eu Madurez,

ausência nos teus claros

Guardados.


Ai, ai de mim.

Enquanto caminhas

Em lúcida altivez,

eu já sou o passado.


Esta fronte que é minha,

prodigiosa

De núpcias e caminho

É tão diversa

da tua fronte descuidada.


Tateio.

E a um só tempo vivo

E vou morrendo.


Entre terra e água

Meu existir anfíbio.


Passeia

Sobre mim, amor,

e colhe o que me resta:


Noturno girassol.

Rama secreta. (...)




Hilda Hilst. [in Poesia: 1959-1979 ]


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e foi assim

antoniOCarlos

Março

2oo9

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