PRELÚDIOS INTENSOS
PRELÚDIOS - INTENSOS PARA OS DESMEMORIADOS DO AMOR.
Toma-me.
A tua boca de linho
sobre a minha boca
Austera.
Toma-me
AGORA, ANTES
Antes que a carnadura
se desfaça em sangue,
antes
Da morte, amor,
da minha morte,
toma-me
Crava a tua mão,
respira meu sopro,
deglute
Em cadência
minha escura agonia.
Tempo do corpo
este tempo,
da fome
Do de dentro.
Corpo se conhecendo,
lento,
Um sol de diamante
alimentando o ventre,
O leite da tua carne,
a minha Fugidia.
E sobre nós
este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia.
Sobre nós a vida
A vida se derramando.
Cíclica.
Escorrendo.
Te descobres vivo
sob um jogo novo.
Te ordenas.
E eu deliquescida:
amor, amor,
Antes do muro,
antes da terra, devo
Devo gritar
a minha palavra,
uma encantada
Ilharga
Na cálida textura
de um rochedo.
Devo gritar
Digo para mim mesma.
Mas ao teu lado me estendo
Imensa.
De púrpura.
De prata.
De delicadeza.
..........................................................................................................II
Tateio.
Tateio.
A fronte.
O braço.
O ombro.
O fundo sortilégio da omoplata.
Matéria-menina a tua fronte
e eu Madurez,
ausência nos teus claros
Guardados.
Ai, ai de mim.
Enquanto caminhas
Em lúcida altivez,
eu já sou o passado.
Esta fronte que é minha,
prodigiosa
De núpcias e caminho
É tão diversa
da tua fronte descuidada.
Tateio.
E a um só tempo vivo
E vou morrendo.
Entre terra e água
Meu existir anfíbio.
Passeia
Sobre mim, amor,
e colhe o que me resta:
Noturno girassol.
Rama secreta. (...)
Hilda Hilst. [in Poesia: 1959-1979 ]
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e foi assim
antoniOCarlos
Março
2oo9
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